Estados-Membros da ESA, incluindo Portugal, assumem a liderança na remoção de detritos espaciais
Durante o Conselho Ministerial da Agência Espacial Europeia (ESA), Space19+, que teve lugar no final de Novembro, os Estados-Membros da Agência decidiram assumir a liderança na remoção de detritos espaciais, apoiando financeiramente a missão ADRIOS, liderada pela startup ClearSpace. A empresa suíça foi selecionada no início de 2019 pela ESA para levar a cabo a primeira missão de remoção de detritos espaciais em órbita. A missão, prevista para 2025, contará com a liderança de empresas portuguesas em dois dos principais subsistemas do satélite.
Mais de 750.000 objetos com um tamanho superior a 1 cm, todos eles potencialmente em fim de missão, orbitam a Terra, coexistindo com cerca 4.500 satélites, dos quais apenas um terço se encontra ativo. Todos os anos se dá a reentrada não controlada de aproximadamente 100 toneladas de detritos na atmosfera da Terra, uma situação que explica a urgência de desenvolver tecnologia e soluções que permitam a remoção controlada e segura dos detritos que a atividade humana deixou no espaço nas últimas décadas.
Depois do lançamento de um novo programa de remoção de detritos, que recebeu o apoio dos Estados-Membros, a ESA vai atribuir a primeira missão deste tipo à ClearSpace, startup suíça criada por uma equipa de investigadores da Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL). O desenvolvimento do projeto terá início no primeiro trimestre de 2020 e envolverá empresas portuguesas.
As empresas portuguesas terão uma posição de relevo no consórcio graças ao compromisso assumido por Portugal de cofinanciar com 7,5 milhões de euros a primeira fase da missão de Remoção Ativa de Detritos e Manutenção em Órbitra (ADRIOS, na sigla inglesa), aprovada pela ESA no Space19+.
“Imaginem como seria perigoso navegar em mar alto se todos os navios que naufragaram ao longo da história ainda estivessem a boiar”, diz o diretor-geral da ESA Jan Wörner. “Esta é a situação atual na órbitra terrestre e não podemos permitir que continue. Os Estados-membro da ESA deram o seu forte apoio a esta nova missão, que também abre caminho para novos serviços comerciais essenciais no futuro.”
Além de Portugal, outros sete Estados-membro da ESA assumiram o compromisso de financiar a missão ADRIOS. O Conselho Ministerial da ESA concordou em contratar um prestador de serviços para a remoção segura de um objeto propriedade da Agência que se encontra inativo na órbita terrestre baixa. Ao abrigo do novo programa de Segurança Espacial da ESA, esta iniciativa pretende contribuir ativamente para a limpeza do espaço, ao mesmo tempo que demonstra a viabilidade das tecnologias necessárias para a eliminação de detritos.
Este projeto inova pela sua pela abordagem comercial, que permitirá a um consórcio industrial fornecer à ESA um serviço que será um primeiro passo na direção de uma atividade regular de gestão de resíduos no espaço e, eventualmente, outros serviços em órbita.
A primeira missão ADRIOS visa a recuperação de um adaptador secundário de carga útil, Vespa, que foi deixado no espaço pelo lançador Vega em 2013. Este componente pesa cerca de 100 kg, e tem o tamanho de um pequeno satélite, o que combinado com uma construção robusta e uma forma simples, fazem dele o primeiro alvo adequado para ser removido pelo consórcio industrial.
A estrutura do consórcio liderado pela ClearSpace ainda está em fase de finalização e a startup suíça está a negociar com empresas portuguesas a sua posição de liderança no desenvolvimento do software e dos subsistemas GNC (controlo e navegação do equipamento), dois sistemas críticos da nave espacial.
Portugal assume a liderança de um dos mercados com maior potencial de crescimento: Segurança Espacial
O espaço deve ser visto como um bem comum, associado às nossas instituições e ambições coletivas, tal como assumido na estratégia “Portugal Espaço 2030”. O espaço fornece a infraestrutura para um largo conjunto de aplicações usadas diariamente na mobilidade pessoal e profissional, comunicação e entretenimento de cada um de nós. Também é a base para previsões meteorológicas e da agricultura de precisão para maximizar colheitas e a rotação de culturas. Usamos o espaço quando realizamos transações bancária ou fazemos a gestão de recursos essenciais como a água potável, monitorizamos incêndios florestais, fazemos investigação arqueológica…, expandimos o conhecimento científico e o sonho de alargar o alcance da humanidade. Estas e muitas outras atividades dependem atualmente dos dados provenientes do espaço e da infraestrutura que permite a geração e a utilização destes dados.
A agricultura, pescas, desenvolvimento urbano (incluindo o cadastro e formas de utilização dos solos e a mobilidade), transportes terrestres e marítimos, comunicações, turismo, banca, defesa e segurança, e até mesmo a saúde pública por via da monitorização de epidemias, são alguns dos setores que podem beneficiar de soluções baseadas na tecnologia do espaço.
É neste contexto que a Portugal Space defende a “Democratização do Espaço”, traduzida na plena integração do espaço na economia e na sociedade de uma forma sustentável, tanto a nível ambiental (no espaço e na Terra) como económico.
Ao contribuir para o Programa de Segurança Espacial da ESA, Portugal contribui para a ideia que o espaço é uma infraestrutura fundamental ao serviço do crescimento económico (no espaço e na Terra), que precisa de ser desenvolvida e protegida, ao mesmo tempo que potencia uma liderança mundial e europeia e representa uma vantagem competitiva num dos maiores mercados futuros do espaço.
Reduzir a existência de lixo espacial e a promoção de atividades espaciais limpas representam múltiplos benefícios:
• Sociais: O crescimento descontrolado dos detritos espaciais tornará inutilizáveis órbitas específicas, como sejam as usadas pelos satélites críticos para serviços meteorológicos, observação da Terra e de telecomunicações, limitando de forma permanente e catastrófica os sistemas críticos de que a sociedade depende. Ao mesmo tempo, alertas de prevenção de colisões permitirão aos operadores de satélites antecipar medidas de proteção. O esforço em prol da sustentabilidade e da proteção do ambiente é um valor partilhado por muitos na Europa, especialmente os jovens.
• Económicos: A destruição de satélites individuais ou a perda irremediável de órbitas específicas devido ao crescimento descontrolado de detritos teria efeitos devastadores a nível mundial. Para a Europa, esta situação pode significar a perda de atividade económica no espaço, avaliada em cerca de 8.000 milhões de euros. Os operadores globais de satélites gastam anualmente 15 milhões de euros em manobras que evitem a colisão com detritos, um valor que, se nada for feito, irá aumentar com o crescimento das atividades espaciais. O desenvolvimento de tecnologias para automatizar os alertas de colisão, fornecendo dados de órbita altamente precisos e atenuando a existência de detritos, assim como o investimento na remoção do lixo espacial, representam novas oportunidades de negócio e a criação de postos de trabalho para a indústria europeia, incluindo o apoio a um novo mercado de serviços espaciais. Além disso, a próxima revolução tecnológica do setor passará pela produção/fabrico/reciclagem no espaço e o desenvolvimento das capacidades para eliminar os resíduos são as mesmas que as necessárias para a manutenção e fabrico em órbita.
• Geopolíticos: O espaço é um elemento facilitador para a economia global e qualquer entrave à sua utilização livre e aberta, devido ao crescimento descontrolado de detritos, comprometeria a estabilidade económica internacional e, por consequência, colocaria em perigo a ordem pública internacional.
• Científicos: A salvaguarda dos nossos recursos espaciais contra o risco que representa o lixo espacial exige o estudo das causas que levam ao aparecimento de resíduos e o desenvolvimento de novos modelos estatísticos, técnicas e sistemas. É necessário estudar soluções tecnológicas inovadoras para que os satélites não se transformem em detritos e a remoção do lixo espacial obriga a estar na vanguarda das soluções técnicas para operações de proximidade.
Um conhecimento exato, atempado e abrangente da situação é fundamental para a proteção e o funcionamento seguro de todas as infraestruturas espaciais críticas europeias (e mesmo mundiais).
As atividades neste domínio capacitarão os utilizadores institucionais, industriais e governamentais, apoiando a gestão sustentável do tráfego espacial, incluindo o acompanhamento, a avaliação e diminuição dos riscos, a manutenção em órbita e a redução dos resíduos. Permitirão ainda o desenvolvimento de soluções para a redução dos impactos ambientais e da produção de resíduos espaciais, e a eliminação de grandes quantidades de detritos. Exemplos de potenciais utilizadores incluem:
• Entidades institucionais e governamentais: Ferramentas de processamento de dados, catalogação e automação e software que forneçam informações mais oportunas e melhorem a capacidade da ESA, das agências espaciais nacionais e dos parceiros institucionais de proteger as frotas de satélites; e
• Indústria: A indústria europeia pode obter vantagens competitivas a longo prazo através do desenvolvimento de tecnologias e plataformas que sejam efetivamente compatíveis com a regulamentação relativa à redução dos resíduos. Os pioneiros na remoção ativa de lixo espacial podem, ainda, criar novas capacidades industriais necessárias para realizar a manutenção em órbita.
A par da evolução tecnológica, a próxima etapa passa por desenvolver o quadro de gestão do tráfego espacial.
A Segurança Espacial inclui ainda, além dos Detritos Espaciais e do Espaço Limpo, a Meteorologia Espacial e Defesa Planetária, tudo segmentos em que Portugal irá investir.
Acerca da Portugal Space
A Agência Espacial Portuguesa, Portugal Space, é uma organização criada pelo Governo Português, em estreita colaboração com o Governo Regional dos Açores, com o principal objetivo de executar a estratégia “Portugal Space 2030”, promovendo e fortalecendo o ecossistema espacial e a cadeia de valor em Portugal em benefício da sociedade e da economia através de um conjunto de domínios de intervenção, nomeadamente Observação da Terra, Telecomunicações, Segurança Espacial e Transportes Espaciais, e permitir que, até 2030, Portugal seja amplamente reconhecido como uma autoridade global na ciência e economia das interações Espaço Terra-Terra-Clima/Oceanos.