Portugal SPACE // Nossa missão

Democratização do espaço

Os privados estão a desempenhar um papel cada vez mais importante nas atividades espaciais, tomando um lugar que tradicionalmente era ocupado pelos Estados e conduzindo-nos ao chamado Novo Espaço.

 

© ESA–Manuel Pedoussaut, 2015

O Espaço, que em tempos foi palco de conquistas tecnológicas e afirmação de soberania das nações, é hoje campo de desenvolvimento de benefícios socioeconómicos cada vez maiores, onde se multiplicam diferentes atores do setor privado. Longe vão os dias em que um bilhete para o Espaço era exclusivo de países com infinitos recursos financeiros e laboratórios repletos de cientistas.

O Espaço deve ser considerado como um bem público associado às nossas instituições e ambições coletivas, como resulta da estratégia Portugal Espaço 2030.

Além de ser um setor em crescimento, o Espaço apoia e impulsiona o sucesso e a competitividade de muitas outras áreas de atividade. Há ainda muito por fazer e o potencial do Espaço está longe de ser totalmente explorado, abrindo possibilidades que vão muito para lá do que podemos imaginar atualmente. Esta perspetiva estimulou o aparecimento de um novo setor espacial e atores ávidos por explorar essas oportunidades, alterando de forma definitiva o ambiente em que se desenvolvem as atividades espaciais no geral.

O significado e mérito do Espaço baseiam-se na forma como a agenda do setor se alinha com as principais tendências, motivações e catalisadores da evolução da humanidade. Um dos exemplos mais evidentes diz respeito às alterações climáticas: é irrefutável que o aquecimento global terá impactos nos sistemas naturais e humanos à escala mundial, e que estes devem ser atentamente monitorizados. Assistimos a mudanças sociais e económicas sem precedentes que aumentam a complexidade deste desafio.

Neste contexto, o setor espacial apresenta ferramentas essenciais para a monitorização do clima e realização de previsões rigorosas, bem como para a avaliação dos impactos e vulnerabilidades resultantes das alterações climáticas. Esta recolha de dados é fundamental na definição de políticas e na tomada de decisões informadas no sentido de mitigar as consequências e adaptar comportamentos. Os desafios que a Humanidade enfrenta não se limitam às alterações climáticas e o Espaço também deve ser visto como um instrumento que nos permite abordar temas como migrações, gestão de recursos, saúde, entre tantos outros.

O Espaço e o desenvolvimento de tecnologias associadas são hoje reconhecidos como motores de inovação. O mundo atravessa uma fase de transformação digital e o Espaço posiciona-se para liderar essa transformação. O Espaço é ainda uma forma de atrair os mais jovens e talentos de nível mundial, representando um imperativo para a promoção do progresso social e económico e para a segurança e proteção internacional. De facto, a segurança, a proteção e o bem-estar da nossa sociedade dependem cada vez mais da informação e dos serviços prestados a partir do Espaço e, sublinhe-se, o crescente impacto da tecnologia e dados espaciais em muitos outros setores.

A lista de setores que beneficiam ou podem beneficiar de soluções baseadas no espaço é extensa: agricultura, pescas, infraestruturas, desenvolvimento urbano (incluindo o registo predial, o uso da terra e a mobilidade urbana), diferentes formas de transporte e navegação, comunicações, turismo, banca, defesa e segurança.

É neste contexto que falamos na Democratização do Espaço para nos referirmos à total integração do Espaço na economia e na sociedade de uma forma sustentável, tanto a nível ambiental como económico. Para que isso aconteça é fundamental que o setor cresça além do financiamento público, no qual se tem apoiado maioritariamente até agora.

Na verdade, além de qualquer desenvolvimento tecnológico, o primeiro avanço no Espaço foi o reconhecimento de que estávamos perante algo que era mais do que palco para demonstrações de orgulho e superioridade nacional, e que podia, através dos dados recolhidos e das informações que daí resultam, contribuir para enfrentar os desafios globais e resolver problemas da humanidade, contribuindo de forma decisiva para o crescimento económico e o bem-estar social.

O próximo grande avanço acontecerá quando for amplamente reconhecido que o Espaço não é apenas um fornecedor passivo de informação, mas que as atividades espaciais podem passar da observação à ação. O que significa ir da observação e monitorização de catástrofes naturais e do apoio aos trabalhos de auxílio, para a previsão e prevenção da perda de vidas.

Da observação das alterações climáticas ao combate e transformação dos comportamentos humanos que levam ao aquecimento global e à proteção ambiental, através da otimização de rotas terrestres, marítimas ou áreas, para reduzir níveis de consumo de recursos, ao apoio à otimização de fontes de energia alternativas ou à utilização de tecnologias espaciais para a produção de energia. Da observação dos efeitos do clima espacial em ativos espaciais e terrestres, à prevenção das consequências de eventos como o de Carignton de 1859 ou a tempestade geomagnética de Março de 1989, que causou prejuízos de vários de milhões de euros em vários países. Da observação da multiplicação dos detritos espaciais, à prevenção de colisões para uma abordagem ativa da segurança operacional no ambiente espacial, que permita ainda o fabrico ou a manutenção de ativos e reciclagem no Espaço, integrando o Espaço na esfera económica de influência da Terra.

O Papel de Portugal na Democratização do Espaço

Portugal compromete-se a liderar os esforços de democratização de acesso aos dados espaciais.

a) dando os primeiros passos no sentido do desenvolvimento, pelo setor privado, de uma constelação de pequenos satélites de Observação da Terra e aplicações associadas a jusante (downstream applications) focadas no desenvolvimento socioeconómico do Atlântico (considerado um Blue World) incluindo a investigação em aspetos relacionados como sejam o Clima Ártico e contribuindo para os objetivos estratégicos dos países parceiros. [Programa(s): FutureEO e Incubed+]

b) investindo no desenvolvimento de aplicações e serviços a jusante, ligando os setores espaciais e não espaciais e atraindo novos modelos de negócios. [Programa(s): Telecomunicações e Aplicações Integradas, ARTES]

Portugal compromete-se a liderar os esforços de democratização do acesso ao espaço.

a) do apoio ao desenvolvimento de parcerias público-privadas lideradas pela indústria para a criação de um porto espacial e um microlançador para pequenos satélites a construir na Ilha de Santa Maria, nos Açores, complementar à estratégia europeia e contribuindo para o sucesso e a competitividade dos lançadores europeus em processo de instalação. [Programa(s): Serviços Comerciais de Transporte Espacial].

b) do suporte ao sucesso do Space Rider visando, sobretudo, a exploração do veículo através do envolvimento de setores não espaciais, tais como a indústria farmacêutica, para promover a investigação e desenvolvimento de produtos em ambiente de microgravidade, conduzindo o Espaço a uma nova era. [Programa(s): Space Rider]

© ESA 

A democratização do acesso ao Espaço, impulsionada por avanços tecnológicos como sejam as tecnologias de fabrico aditivo, a nanocomputação energeticamente eficiente e/ou sistemas de lançamento a custos reduzidos, colocarão o Espaço ao alcance de todo o ecossistema, incluindo países em desenvolvimento, PME, startups, centros de investigação ou universidades.

O desafio é desenvolver modelos de negócio criativos e inovadores através de soluções originais.

O ecossistema vê surgir novos players que procuram e implementam modelos económicos inovadores que já não estão apenas dependentes de financiamento público.

A expansão dos ecossistemas e o crescente envolvimento de novos atores públicos e privados em atividades espaciais abre caminho a disrupções económicas significativas. O aumento da concorrência entre agentes económicos impulsionou o setor que, por outro lado, está a ser estimulado por soluções cada vez mais rentáveis. Uma tendência crescente que acentua a concorrência entre players, mas que também promove um aumento dos investimentos no setor. E quanto mais significativos forem os investimentos, maior será a democratização do Espaço.

Novos atores

À medida que novos agentes e tendências redesenham o ecossistema, as empresas estarão focadas em três eixos fundamentais: receitas, sustentabilidade e garantia inquestionável de satisfação das necessidades, em matéria de serviços espaciais, dos clientes – cidadãos individuais, no caso dos fundos públicos. Em suma, o modelo de negócio deve ser sustentável.

É por isso que a Portugal Space nasceu como algo diferente em comparação com as tradicionais agências espaciais. A Agência Espacial Portuguesa é uma organização que trabalha como uma unidade de desenvolvimento de negócios, promotora e dinamizadora de atividades espaciais para todo o ecossistema português.

O papel da Agência Espacial Portuguesa é trabalhar para reduzir ainda mais as barreiras à entrada e apoiar Portugal a fomentar um ambiente político e regulamentar que promova novos modelos de negócio, bem como a proteção do ambiente espacial.

Portugal está empenhado em liderar o esforço de democratização do Espaço, porque esta, em conjunto com o aparecimento de novos atores e de orçamentos menores, exige o desenvolvimento de atividades em que o Governo é um parceiro comercial, responsável por promover novos mercados dentro do país.

Porque não se trata apenas de negócios. A democratização do Espaço é sobre educação, ciência, economia. Trata-se de desenvolver uma política de inovação e de diversificar as fontes de financiamento para as entidades que estão envolvidas na integração dos setores espacial e não espacial para benefício económico e social.