Domínios de Ação // SEGURANÇA ESPACIAL

ADRIOS

Mais de 750.000 objetos com um tamanho superior a um centímetro, todos eles potencialmente em fim de missão, orbitam a Terra, coexistindo com cerca 4.500 satélites, dos quais apenas um terço se encontra ativo.

© ESA

Todos os anos se dá a reentrada não controlada de aproximadamente 100 toneladas de detritos na atmosfera da Terra.

Ainda que os lançamentos para o Espaço parassem imediatamente, a quantidade de detritos continuaria a aumentar devido a colisões, levando a um aumento dos destroços e assim por diante. A forma mais eficaz de acabar com esta cadeia de reações e estabilizar a quantidade de lixo espacial em órbitas críticas é remover grandes destroços do Espaço.

Considerando que o problema só irá piorar nos próximos anos, é urgente desenvolver tecnologia e soluções que permitam a remoção controlada e segura dos destroços do Espaço. Com este objetivo, a Agência Espacial Europeia lançou um novo movimento que tem recebido o apoio dos seus Estados- membro, incluindo Portugal.

No último Conselho Ministerial da ESA, Space19+, diversos Estados-membro decidiram aprovar e financiar a primeira missão de Remoção Ativa de Detritos e Manutenção em Órbita (ADRIOS, na sigla inglesa), com dois objetivos principais: retirar os objetos feitos pelo homem deixados no Espaço, bem como desenvolver as competências necessárias para efetuar a manutenção de ativos no Espaço por forma a prolongar a sua vida útil.

Ao longo dos 12 meses que antecederam ao Conselho Ministerial da ESA, Space19+, a ESA concebeu uma abordagem inovadora para desenvolver um serviço que combata a existência do lixo espacial.

Durante o Space19+, Portugal subscreveu a missão ADRIOS, comprometendo-se com o sucesso desta iniciativa. O serviço será prestado pela ClearSpace, uma startup criada por uma equipa de investigadores da Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne, e acontecerá com o envolvimento de empresas portuguesas. Esta participação é possível devido ao compromisso de Portugal de investir 7,5 milhões de euros na primeira fase do contrato.

A remoção ativa pode ser uma solução eficaz em termos do número de colisões evitadas e o número de objetos removidos. Para maximizar o efeito da remoção de detritos, os objetos escolhidos para ser removidos devem ter uma massa elevada, por terem um impacto ambiental mais significativo em caso de colisão; devem também apresentar elevadas probabilidades de colisão, o que significa estar em regiões densamente povoadas (a cerca de 800-1000 km de altitude em grandes inclinações) e ter uma grande secção transversal. Por fim, os objetos devem estar em altitudes elevadas, o que significa que a vida orbital dos fragmentos resultantes é longa.

Os benefícios da redução dos detritos espaciais e das atividades de limpeza do espaço são inúmeros

 Sociais: O crescimento descontrolado dos detritos espaciais inutilizará órbitas específicas, tais como as que são usadas por satélites vitais para Observação da Terra e serviços de telecomunicações, limitando de forma permanente e catastrófica serviços críticos para a sociedade. Ao mesmo tempo, serviços de alerta de colisões permitirão aos operadores de satélites tomar medidas preventivas e de proteção.

• Económicos: A destruição de satélites individuais ou a perda permanente de órbitas específicas devido ao crescimento descontrolado de resíduos teria efeitos globais devastadores. Para a Europa, poderia significar perda de atividade económica no Espaço avaliada diretamente em mais de €8.000 milhões. Adicionalmente, os operadores de satélites mundiais gastam anualmente cerca de €15 milhões em manobras para evitar o impacto com detritos.

• Geopolíticos: Sendo um facilitador da economia mundial, qualquer entrave a um acesso livre e gratuito do Espaço, motivado pelo crescimento incontrolado do lixo espacial prejudicaria a estabilidade económica global e, por acréscimo, poria em risco a ordem internacional.

• Científicos: Salvaguardar os nossos bens espaciais contra o risco do lixo espacial exige que se estudem as causas da existência de detritos e se desenvolvam novos modelos estatísticos, tecnologias, técnicas e sistemas. Soluções tecnológicas inovadoras, nomeadamente o chamado design-for-demise (conceção dos cativos espaciais para que se queimem ou neutralizem durante a reentrada na atmosfera), precisam de ser equacionadas de forma a garantir que os novos satélites não se transformam em detritos, e a remoção de detritos exige abordar uma solução técnica para operações de aproximação.

© ESA

Uma avaliação precisa, atempada e abrangente da situação é decisiva para a proteção e operação segura de todas as infraestruturas espaciais europeias, e na verdade, mundial.

As atividades neste domínio capacitarão utilizadores institucionais, industriais e governamentais, através do apoio à gestão sustentável do tráfego espacial, incluindo a monitorização, avaliação e redução de riscos; manutenção em órbita e contenção dos detritos, bem como modelos de conceção que diminuam os impactos ambientais, reduzam a produção de detritos espaciais e retirem de órbita grandes pedaços de detritos espaciais.

Entre os potenciais utilizadores estão

• Utilizadores institucionais e governamentais: Ferramentas e software de processamento de dados, catalogação e automação que permitam obter informação de forma mais atempada, mais úteis, e que melhore a capacidade da ESA, das agências espaciais nacionais e dos parceiros institucionais para proteger as frotas de satélites;

• Indústria: A indústria europeia pode ganhar uma vantagem competitiva de longo prazo através do desenvolvimento de tecnologias e plataformas que estejam efetivamente em conformidade com a regulamentação para a mitigação de detritos. Os precursores na remoção de detritos podem contribuir para o desenvolvimento de novas competências industriais europeias necessárias para executar serviços em órbita.