Copernicus: Portugal ganha contratos no valor de €10 milhões em futuras missões

Processo de integração do Sentinel-6A no IABG, Ottobrunn, Alemanha. O novo satélite será lançado a 14 de Novembro de 2020.

A Agência Espacial Europeia adjudicou 2,5 mil milhões de euros em contratos de desenvolvimento para seis novas missões de Observação da Terra ao abrigo do programa Copernicus. Cinco empresas portuguesas ganharam contratos que perfazem um total de 10 milhões de euros.

A Active Space Technologies, Critical Software, Deimos Engenharia, Frezite High Performance -FHP e INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial foram escolhidas pela Agência Espacial Europeia (ESA na sigla inglesa) para desenvolver alguns dos componentes das novas missões do programa Copernicus. No total, serão adjudicados às empresas nacionais projetos orçados em 10 milhões de euros, num conjunto de seis Missões de Elevada Prioridade que serão cofinanciadas pela ESA e pela União Europeia (UE).

O programa Copernicus, ótimo exemplo das relações entre a ESA e a UE no sector espacial, permite responder a desafios como as alterações climáticas, subida do nível das águas do mar, degelo das calotes polares, catástrofes naturais, ou, até, segurança alimentar. As missões de Observação da Terra agora aprovadas foram concebidas para responder às exigências da política europeia e às lacunas sentidas pelos utilizadores do Copernicus, mas também para alargar as atuais capacidades do segmento espacial do programa. Uma vez no espaço, os novos satélites estarão dedicados a fornecer dados que permitirão o estudo e compreensão dos processos climáticos e que, idealmente, levarão a decisões cada vez mais informadas que permitam mitigar o impacto dos efeitos do Homem sobre os ecossistemas terrestres e marítimos.

No âmbito da parceria entre a ESA e a UE, os Estados-membro da Agência Espacial irão financiar o desenvolvimento da componente espacial, incluindo os primeiros satélites desta nova constelação do Copernicus. À União Europeia caberá financiar os satélites recorrentes, toda a operação da frota, bem como a aquisição de serviços comerciais que complementem os dados fornecidos pelos Sentinel.

O sucesso do programa Copernicus baseia-se na excelência tecnológica e numa política de dados abertos e gratuitos, que permitem que o mercado desenvolva aplicações subsequentes (downstream) para um leque alargado de clientes privados e institucionais. O Copernicus serve um mercado a jusante em rápida expansão com taxas de crescimento anual na Europa superiores a 10%.

As seis Missões Copernicus de Elevada Prioridade representam, pelo menos, 12 novos satélites, que trabalharão lado a lado com os já existentes 30 Sentinel. O financiamento para o desenvolvimento total do programa Copernicus, tal como definido no plano a longo prazo, está dependente da negociação do próximo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia.

A decisão de contratualizar a construção dos novos satélites, acontece depois dos Estados-membro da ESA terem aprovado e subscrito a nova fase do programa Copernicus na Conferência Ministerial Space19+. No encontro, que decorreu em Sevilha, no final de 2019, Portugal subscreveu um total de cinco milhões de euros do Copernicus, com o objetivo de dar às empresas portuguesas a oportunidade de virem a liderar o desenvolvimento de subsistemas relevantes para as missões
“As empresas portuguesas estão a expandir a sua presença em projetos com cada vez mais valor acrescentado e também a subir na cadeia de valor, reforçando, assim, o sector espacial português”, comenta Chiara Manfletti, presidente da Portugal Space. “Uma posição que a curto prazo irá exigir mais recursos humanos, com maiores qualificações, o que significa que estamos no caminho certo para atingir um dos principais objetivos da Portugal Space: criar novos empregos altamente qualificados.”

Chiara Manfletti considera ainda que é “uma grande honra para Portugal estar envolvido nas Missões de Elevada Prioridade do Copernicus, uma vez que a sustentabilidade e a proteção ambiental são objetivos não apenas da União Europeia, mas especialmente de Portugal que pretende liderar o movimento pela neutralidade de carbono”.

Uma vez lançados para o espaço, o que deverá acontecer a partir do final de 2025, os novos satélites irão:

  • Permitir a medição das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera produzidas pela atividade humana (CO2M: Copernicus Anthropogenic Carbon Dioxide Monitoring);
  • Fornecer informação para uma gestão cada vez mais sustentável da agricultura e da biodiversidade, além de permitir a caracterização das propriedades dos solos (CHIME: Copernicus Hyperspectral Imaging Mission)
  • Fazer medições da temperatura e da concentração de gelo no mar e medir a salinidade na superfície dos oceanos (CIMR: Copernicus Imaging Microwave Radiometer);
  • Medir e monitorizar a espessura do gelo marítimo e a profundidade da neve sobreposta (CRISTAL: Copernicus Polar Ice and Snow Topography Altimeter);
  • Fornecer observações da superfície terrestre para uma agricultura sustentável e prever eventuais períodos de seca (LSTM: Copernicus Land Surface Temperature Monitoring);
  • Fornecer informação de suporte à gestão da floresta e monitorizar o abatimento e humidade do solo (ROSE-L).

 

Portugueses produzem equipamento de voo

A FHP – Frezite High Performance estará presente em três das seis novas missões do Copernicus. A companhia irá assinar contratos avaliados em 4,2 milhões de euros, estando envolvida nas missões CHIME, CO2M e CIMR. Miguel Santos, administrador da FHP, explica que um dos instrumentos que será alocado à empresa com sede no Porto é o coroar do trabalho desenvolvido no âmbito da ESA nos últimos anos. “É um caminho que a empresa tem vindo a fazer e que culmina num equipamento de voo que não existia na Europa há quatro anos”, afirma Miguel Santos, referindo-se à estrutura desdobrável do CIMR. Nas outras duas missões, os projetos atribuídos à FHP estão igualmente dentro das competências da empresa. São o resultado de serem “vistos pelos adjudicatários principais e pelo ecossistema como um parceiro cada vez mais presente neste tipo de projetos”. Além disso, irá incentivar o processo de inovação contínua em hardware térmico, o que irá contribuir para reforçar a posição da indústria portuguesa no sector espacial.

Quanto ao impacto dos novos contratos no futuro da empresa, a FHP acredita que estes irão resultar em novos acordos, principalmente porque implicam “uma ligação direta com os três fornecedores principais” das Missões Copernicus de Elevada Prioridade. Uma realidade que a empresa já confirmou em projetos anteriores. “A FHP tem vindo a reforçar as ligações com os fornecedores principais, não só nas missões científicas, mas também nas atividades comerciais como satélites para comunicações, o que é excelente, porque são produtos recorrentes e uma vez estabelecida a cadeia de fornecimento é mais fácil obter novos contratos.”

A Active Space Technologies também venceu uma parcela significativa dos 10 milhões que virão para Portugal, estando previsto que venha a trabalhar nas missões LSTM, CIMR, e CHIME, por um total de 3,2 milhões de euros. A empresa portuguesa, que tem escritórios no Reino Unido, diz que a presença “nas Missões Copernicus de Elevada Prioridade está em linha com a estratégia que temos vindo a desenvolver há vários anos”. Segundo Ricardo Patrício, projetos anteriores permitiram à Active Space “conceber e produzir a estrutura completa para o instrumento principal de uma das missões”. “Temos vindo a consolidar as nossas capacidades internas de conceção e produção, o que apoia o nosso crescimento na cadeia de valor.”

O diretor de desenvolvimento de negócios da Active Space Technologies sublinha que a participação na nova fase do programa Copernicus tem dois significados únicos: “Depois do Sentinel-3 e do Sentinel-4, o orgulho de poder contribuir para esta fase muito relevante do programa ambiental Copernicus, mas também o poder participar num programa que tem uma recorrência muito interessante e que no imediato nos envolve em pelo menos três satélites, e em particular para o CIMR, a fabricar três estruturas que irão voar”. 

Já o INEGI venceu um contrato avaliado em 1,5 milhões de euros que pressupõe o desenvolvimento de uma infraestrutura que permitirá testar um instrumento da missão CIMR. “A participação do INEGI numa das novas missões do Programa Copernicus da ESA representa a confirmação do reconhecimento da nossa capacidade de contribuir para a construção de equipamentos espaciais e aumentar a independência da Europa neste domínio”, diz José Coutinho Sampaio, diretor de Inovação e Transferência de Tecnologia. Este contrato é ainda “o resultado do trabalho desenvolvido nos últimos 6 anos em projetos de elevada qualidade, complexidade e exigência no contexto das Large Deployable Structures.”

A Critical Software irá trabalhar na missão CRISTAL e ROSE-L, totalizando os dois contratos os 600 mil euros. Ricardo Armas, diretor de Desenvolvimento de Negócio da Critical Software, enfatiza a importância deste projeto, “que dá continuidade a missões anteriores com o envolvimento da Critical Software, nomeadamente o CryoSat, Sentinel-1 e Sentinel-6″. As duas novas missões também irão permitir à Critical Software ganhar “conhecimentos técnicos e competências únicas para saltar etapas de desenvolvimento noutros mercados em que a segurança é um fator crítico e nos quais a Critical Software tem vindo a investir e a atuar”. Igualmente importante é a oportunidade para “fortalecer a colaboração existente com dois dos maiores players do sector espacial europeu – a Airbus e a Thales Alenia Space”. De um ponto de vista financeiro, “os projetos trarão substância ao investimento de longo prazo realizado pela Critical Software no sector espacial. Esperamos que o conhecimento intersectorial e a transferência de tecnologia venham a gerar ainda mais efeitos multiplicadores”.

A lista de empresas portuguesas que estará ligada aos novos satélites europeus encerra com a presença da Deimos Engenharia. A empresa estará empenhada na preparação da missão CIMR que, para Nuno Ávila “é o reconhecimento pela ESA e pelos grandes fornecedores europeus da experiência e das competências da Deimos Engenharia em sistemas de processamento de dados de satélite de Observação da Terra”. O novo contrato, que vale 500 mil euros, resulta do trabalho que a empresa tem desenvolvido “nos últimos 17 anos em diversas missões comerciais e da ESA”.

A Thales Alenia Space França e Itália (missões CHIME, ROSE-L e CIMR), OHB System (CO2M) e Airbus Defence and Space (LSTM e CRISTAL) são os principais fornecedores para as novas missões Copernicus. O primeiro satélite da missão CO2M deverá ser o primeiro a entrar em funcionamento, estando o lançamento previsto para o final de 2025.

 

Autor
Portugal Space
Data
25 de Julho, 2020