ESA anuncia fim da missão do satélite Sentinel-1B
Satélite não fornecia dados desde o final do ano passado. Operações para a retirada do Sentinel-1B de órbita já estão em curso, mas satélite só deverá sair de órbita em 2023.
O satélite Sentinel-1B foi oficialmente considerado inoperável e a sua missão terminada. O anúncio, feito esta quarta-feira pela Comissão Europeia e pela Agência Espacial Europeia (ESA), acontece depois de várias tentativas para resolver uma anomalia detetada no sistema de energia do satélite. O Sentinel-1B não fornecia dados desde 23 de dezembro de 2021.
Depois de confirmar, em janeiro, que um problema de fornecimento de energia estaria na origem da perda de transmissão de dados, e que as primeiras tentativas de resolução do avaria haviam falhado, a ESA voltaria a tentar no mês seguinte. Nessa altura, a Agência garantia que não havia problemas com “o sistema de controlo”, mas alertava já para a possibilidade de indisponibilidade de dados por um longo período de tempo.
A ESA acabaria por concluir, na sequência de uma análise exaustiva a esta avaria, que será impossível recuperar o bloqueio que existe na unidade de alimentação da antena C-SAR (CAPS, sigla inglesa para C-SAR Antenna Power Supply unit), responsável por fornecer energia ao subsistema eletrónico do radar. Tendo sido incapaz de reativar os reguladores de potência principal, apesar de várias tentativas desde o final do ano passado, a ESA acabaria por considerar perdida a capacidade do Sentinel-1B.
O Sentinel-1B, lançado a 25 de abril 2016, integrava a série Sentinel-1, a primeira num total de seis, que a ESA continua a desenvolver para o programa de observação da Terra da União Europeia, Copernicus. Esta primeira série conta agora apenas com o Sentinel-1A, lançado dois anos antes (2014) e que, tal como o Sentinel-1B, leva a bordo o sensor de radar SAR (radar de abertura sintética) permitindo recolha de dados com aplicações em sectores tão diversos como a vigilância marítima, a monitorização de subsidências e infraestruturas ou a agricultura.
“O Sentinel-1A permanece em órbita em muito bom estado, continuando a fornecer imagens de radar de alta qualidade para várias aplicações”, assegura Simonetta Cheli, diretora dos programas de observação da Terra da ESA.
O que se segue?
A fase de preparação para a retirada do satélite de órbita já está em curso, prevendo-se que a mesma se prolongue até ao final de março de 2023. Este processo requer um estudo detalhado nos domínios da engenharia de satélites, análise da missão e operações de voo, lê-se no sumário executivo sobre a avaria, disponibilizado pela ESA.
Para fazer face às quebras de serviço motivadas por esta avaria, a ESA quer acelerar “o lançamento do Sentinel-1C”, estimando-se que tal aconteça já no segundo trimestre de 2023, muito pelo “sucesso do primeiro voo do VEGA-C”, que ocorreu no porto espacial europeu em Kourou a 13 de julho.
Apesar de não ser possível iniciar a retirada do Sentinel-1B de órbita enquanto decorrem as atividades operacionais do Sentinel-1A e se prepara o lançamento do Sentinel-1C, o processo encontra-se já em fase de preparação e, de acordo com o sumário executivo, iniciar-se-á algures entre julho e setembro de 2023, podendo durar “vários meses”.
A saída de órbita deste satélite também refletirá o “compromisso conjunto da União Europeia e da ESA” para um “espaço limpo e responsável, usando as capacidades de Vigilância e Rastreamento Espacial da UE”, aponta Paraskevi Papantoniou, Diretor-Geral da Indústria da Defesa e do Espaço (DG DEFIS), citado no mesmo comunicado.
Até lá, “o Programa Copernicus tentará colmatar as suas necessidades otimizando as aquisições feitas com o Sentinel-1 e recorrendo a satélites de outras agências espaciais ou provedores de serviços”, explica Carolina Sá, responsável pelos projetos de Observação da Terra na Agência Espacial Portuguesa, também delegada nacional no Programa de Observação da Terra da ESA e no Programa Copernicus da Comissão Europeia.
Por agora, por indisponibilidade de dados do Sentinel-1B, a capacidade de revisita dos Sentinel com tecnologia SAR passa de 7 dias para 14 dias. “Para algumas aplicações, como monitorização de infraestruturas, o tempo de revisita de apenas 14 dias, poderá não ter tanto impacto, mas noutras situações como serviços operacionais de navegação em que os dados são utilizados para a deteção de gelo e definição de rotas, o impacto será mais significativo”, explica Carolina Sá, e é por isso que o programa Copernicus está a tentar colmatar a ausência dos dados através de parcerias ou aquisição de dados de outras missões.
O Sentinel-1B mostrou a sua primeira imagem a 28 de abril de 2016, poucos dias após o seu lançamento, captando uma área de 250 km de largura, na qual se incluía o arquipélago norueguês de Svalbard.