Combate à crise climática deve ser prioridade
das atividades espaciais, dizem europeus

Resultados de um inquérito realizado pela Agência Espacial Europeia revelam que os cidadãos europeus
apoiam o uso das tecnologias espaciais para perceber os efeitos e as causas das alterações climáticas na Terra.
Os dados mostram ainda que a grande maioria quer uma Europa líder no setor espacial global.

Para os cidadãos europeus, as atividades espaciais devem ter como prioridade o estudo e análise dos efeitos e causas das alterações climáticas. Além disso, consideram que a Europa deve mostrar responsabilidade, liderança e autonomia no sector Espaço. Estas são as grandes conclusões do inquérito “Os europeus e as atividades espaciais: Como os europeus encaram as questões relacionadas com o espaço?”, promovido pela Agência Espacial Europeia (ESA). Os resultados da pesquisa, divulgados pela ESA esta terça-feira, baseiam-se nas respostas de 21.366 europeus dos 22 Estados-Membros da agência, incluindo de 1.000 portugueses.

O estudo, levado a cabo entre 25 de setembro e 6 de outubro , contou com uma amostra representativa de cada país, calculada a partir do número de habitantes, e que seguiu ainda variáveis como idade, género ou região de residência.

Segundo o comunicado publicado pela ESA, 9 em cada 10 europeus diz que a utilização “mais importante do Espaço” passa por “reunir dados sobre as alterações do clima” e “perceber o que se está a passar com a Terra”. Para Josef Aschbacher, Diretor-Geral da ESA, os resultados mostram que “os cidadãos europeus apoiam fortemente o investimento no Espaço para melhorar a vida na Terra”, para “monitorizar e mitigar as alterações climáticas”. “Devemos agir agora para aumentar a autonomia, liderança e responsabilidade no Espaço”, frisou Josef Aschbacher.

Mais de 80% dos inquiridos dizem que os países europeus deveriam juntar “as suas atividades espaciais para competir com outras nações espaciais” e que “as atividades espaciais europeias deveriam ser independentes das decisões tomadas por outras grandes potências espaciais”, lê-se ainda no comunicado. Segundo a ESA, esta opinião “cresceu significativamente desde o último inquérito” do género, realizado em 2019, e que na altura inclui apenas a Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido.

As respostas dos cidadãos europeus sobre o uso das tecnologias espaciais são publicadas a uma semana do Conselho Ministerial da ESA de 2022, a Space22+, que acontece em Paris a 22 e 23 de Novembro. A estratégia que Portugal levará à reunião espelha a opinião dos cidadãos, mas também reflete o trabalho e aposta que têm vindo a ser desenvolvidos pela Agência Espacial Portuguesa desde 2018.

“A Agência Espacial Portuguesa defende um espaço sustentável para um planeta sustentável e uma das formas de dar resposta às alterações climáticas é usando as tecnologias do Espaço. Esta deve ser uma prioridade social e económica e o país deve apoiar tanto como fornecedor de dados de satélite, como dinamizador do uso destes dados e também como integrador de sistemas”, considera Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. “O Espaço tem respostas para estes problemas, que já enfrentamos, e é por isso que devemos dinamizar, fomentar e investir em programas, projetos e missões que tenham em vista a sustentabilidade do nosso planeta”, acrescenta.

Os dados de Observação da Terra, recolhidos por satélites, têm uma vasta área de aplicações, sendo essenciais na previsão meteorológica, mas também na gestão da floresta e dos recursos agrícolas ou na monitorização de infraestruturas, por exemplo. Além disso, são utilizados por cientistas, decisores e líderes políticos e até empreendedores para monitorizar, perceber e prever alterações e crises decorrentes das mudanças climáticas.

Limpeza de detritos espaciais como prioridade

Para a maior parte dos cidadãos europeus inquiridos, o Espaço “é fundamental para aprofundar o conhecimento humano sobre o Universo, bem como para melhorar a vida na Terra através as conexões de comunicação e sinais de navegação”, lê-se ainda no comunicado.

No que diz respeito às aventuras espaciais, a maior parte dos inquiridos refere a limpeza dos detritos espaciais como prioridade para a Europa — à frente da “organização de missões de exploração a Marte”, “pôr astronautas na Lua” e “enviar astronautas a Marte”. “Este é outro ponto positivo: as pessoas estão atentas ao que se passa no setor espacial e compreendem que é essencial assegurar a sustentabilidade do Espaço. Sem isso, não conseguimos utilizar todas as suas potencialidades para, mais uma vez, melhorar a vida no nosso planeta”, aponta Ricardo Conde.

E a importância que os europeus dão à exploração espacial cresceu desde 2019. “O apoio para uma exploração robótica a Marte cresceu 18% entre os inquiridos de França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido”, constata a ESA. Ao mesmo tempo, os cidadãos europeus também apoiam a ida de humanos à Lua e a Marte, verificando-se um crescimento de 18 e 16 pontos percentuais nestas questões, respetivamente.

Autor
Portugal Space
Data
15 de Novembro, 2022