Terra em Foco junta mais de 200 participantes em Braga
Empresas, academia e administração pública reunidos na Universidade do Minho para debater desafios e avanços no setor de Observação da Terra.
Se o futuro da Humanidade “não é senão um contínuo de interrogações”, que respostas devemos procurar para atenuar as dúvidas e contornar desafios? Parte da solução para os problemas da atualidade reside na cooperação e no Espaço. Por isso, a edição de 2024 da Conferência Nacional de Observação da Terra — Terra em Foco afirma-se como um momento “particularmente importante ao permitir a interação entre diferentes setores e abordagens distintas”, apontou o Reitor da Universidade do Minho (UMinho), Rui Vieira de Castro, na sessão de abertura do evento.
A conferência bianual, criada e promovida pela Agência Espacial Portuguesa em 2022, acontece esta quinta e sexta-feira no Campus de Gualtar da Universidade do Minho, em Braga. A segunda edição do evento conta com mais de 200 participantes inscritos e meia centena de oradores, divididos por diversas sessões paralelas, e ainda uma exposição de pósteres.
Mais de 200 participantes dividiram-se por diversas sessões paralelas na Terra em Foco. © Neva Films/ Agência Espacial Portuguesa
Para Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, a conferência assumiu-se, este ano, como o “evento de excelência para a comunidade nacional de Observação da Terra”. “É um momento muito importante que reúne um público bastante diverso, vindo da academia, da indústria ou da defesa, por exemplo. Há aqui uma partilha de conhecimento e de experiências quase ininterrupta. Promover estas interações é sempre um dos maiores objetivos da Agência”, referiu, à margem das sessões temáticas do primeiro dia do evento.
Por outro lado, Ricardo Conde lembrou que a Agência Espacial Portuguesa assumiu, desde o início, um compromisso para com a sustentabilidade, “um tema que marca a agenda da Terra em Foco e de quase todas as iniciativas” da organização.
O mesmo foi destacado por Pedro Arezes, presidente da Escola Engenharia da Universidade do Minho (EEUM), que este ano se juntou à Agência Espacial Portuguesa para a organização da conferência. Para Pedro Arezes, os últimos anos têm demonstrado que “os grandes desafios com que a sociedade se depara, atualmente e num futuro próximo, vão exigir, em particular às universidades, uma maior capacidade de adaptação e resiliência”. Assim, completou, a EEUM tem vindo a preparar-se para antecipar os desafios futuros, apostando por isso em domínios como a Engenharia Aeroespacial (a academia minhota inaugurou uma licenciatura na área em 2022) e a Ciência dos Dados.
Ricardo Conde enfatizou a necessidade de compromisso com a sustentabilidade. © Neva Films/ Agência Espacial Portuguesa
A sessão de abertura contou ainda com a presença de Olga Pereira, vereadora da Câmara Municipal de Braga, que sublinhou a necessidade de uma “intervenção urgente” na resposta aos efeitos das alterações climáticas, apontando que a Terra em Foco surge como um “passo adicional para discutir um futuro melhor e mais sustentável”.
O primeiro dia da conferência contou ainda com apresentações de Juliette Lambin, responsável pelo Departamento de Missões Futuras e Arquitetura (EOP-F) na Agência Espacial Europeia (ESA), de José António Sobriño, diretor da Unidade de Alterações Climáticas da Universidade de Valência, e de Ana Fonseca, ex-diretora da Unidade de Geodesia Aplicada do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). A investigadora e coautora do livro Detecção Remota, publicado em 2004, fez uma retrospetiva do setor português de Observação da Terra e foi homenageada no evento pelas suas contribuições para o setor.
Ana Fonseca foi homenageada na Terra em Foco. © Neva Films/ Agência Espacial Portuguesa
Na sua apresentação, Ana Fonseca relembrou o uso de dados de observação da terra nos trabalhos de caracterização sismológica da zona de Monte real, em 1994, para a instalação do gasoduto Badajoz-Leiria ou, mais recentemente, na monitorização de infraestruturas como o Metro do Porto ou o Altice Arena, em Lisboa, além de focar a importância dos satélites na resposta a situações de catástrofe.
A Conferência Nacional de Observação da Terra – Terra em Foco termina esta sexta-feira, dia 13 de setembro, com a atribuição dos prémios para Melhor Comunicação e Melhor Póster de estudantes. Antes há ainda tempo para debates e apresentações em torno de questões como o impacto da Inteligência Artificial na Observação da Terra ou os instrumentos de financiamento e oportunidades de internacionalização para os atores do setor.
Ainda durante a tarde, os participantes podem ainda participar em diversas sessões práticas onde aprenderão a trabalhar com diferentes ferramentas como sejam o Copernicus Data Space Ecosystem para analisar imagens Sentinel-2, aprender sobre novas tendências e conceitos como STAC aplicada à Observação da Terra ou mesmo a encontrar oportunidades de negócio em organizações internacionais.