Portugal é o quinto país a ratificar a Convenção
do Observatório Square Kilometre Array
Com a recente aprovação pela Assembleia da República da Convenção que estabelece o Square Kilometre Array Observatory (SKAO), Portugal tornou-se no quinto país a ratificar a acordo que estabelece este organismo. A Convenção foi assinada por sete países, incluindo Portugal, a 12 de Março de 2019, um momento marcante que desencadeou o processo de ratificação legislativa em cada país.
A Convenção foi assinada por sete países, incluindo Portugal, em Roma a 12 de Março de 2019, um momento marcante que desencadeou o processo de ratificação legislativa em cada país
Portugal acaba de se juntar à Holanda, Itália, África do Sul e Austrália como membro fundador do SKA Observatory, a organização intergovernamental encarregue de construir e operar os maiores radiotelescópios do mundo, nomeadamente os telescópios SKA, que ficarão localizados na África do Sul e na Austrália. Para que o Observatório SKA se torne uma realidade é ainda necessário que o Reino Unido, o terceiro país anfitrião da organização e sede do SKAO Global, conclua o seu processo de ratificação. Estima-se que o Governo britânico venha a terminar este processo antes do final de 2020, o que permitirá que a primeira reunião do Conselho do SKAO tenha lugar já em Janeiro de 2021.
A Agência Espacial Portuguesa, Portugal Space, que atua em nome do Governo português no sentido de promover o país no mercado espacial internacional e de reforçar a presença do país nos principais palcos mundiais, será o representante nacional no SKO.
“A participação de Portugal no programa SKA e o facto de Portugal ser membro fundador do “SKA Observatory” abre novas oportunidades a jovens, investigadores, profissionais e amadores de astronomia em Portugal para estarem envolvidos numa das mais revolucionárias iniciativas de cooperação científica a nível global, que vai tornar possível fazer astronomia de alta resolução através de qualquer um dos nossos computadores ou telemóveis portáteis”, afirma o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. “Este programa democratiza finalmente o acesso à astronomia e ao conhecimento do Universo, estimulando a curiosidade e criatividade cientifica de jovens e adultos, assim como abre novos caminhos a investigadores para aprofundarem o conhecimento sobre a criação da vida e os princípios fundamentais da evolução do Universo.”
“É com imenso prazer que acolhemos Portugal como um dos membros fundadores do SKAO”, diz o Diretor Geral Philip Diamond. “A Europa tem uma forte base radioastronomia e por isso é magnífico ver mais envolvimento europeu no SKAO”. “Portugal torna-se o terceiro país europeu a ratificar a convenção do SKA e existem outros que estão em processo de adesão. As competências e o conhecimento especializado que Portugal tem nas áreas da computação verde e do tratamento de dados são particularmente bem-vindos”.
Portugal envolvido no desenho do SKA
Até agora, a participação portuguesa no SKA foi assegurada pelo ENGAGE SKA (Enabling Green E-Science for the Square Kilometre Array), infraestrutura nacional de investigação radio-astronómica apoiada pelo Roteiro Nacional Português para Infraestruturas de Investigação (RNIE). Nos últimos anos, o ENGAGE SKA assegurou um forte envolvimento português no projeto, construindo uma ampla parceria que reuniu universidades e membros da indústria no âmbito dos consórcios de design do SKA. Foi assim possível promover a inclusão de cientistas, engenheiros e da indústria portuguesa no desenho e na investigação científica desenvolvida pelo projeto.
O ENGAGE SKA contribuiu para várias infraestruturas fundamentais que são agora parte da Rede Portuguesa de Computação Avançada. Isto inclui o supercomputador 239 TFLOPS, Oblivion@SKA inaugurado em Fevereiro de 2020, e o Centro de Competência de Computação Avançada da Universidade de Aveiro (CCACUA), inaugurado em Novembro de 2020. Estas instalações foram concebidas para apoiar a generalidade da comunidade científica portuguesa e uma grande parte do tempo de computação estará aberta à sociedade para estudos tão diversos como a monitorização de incêndios, agricultura de precisão, energia verde, fábricas inteligentes ou a pandemia da COVID-19, num excelente exemplo do impacto mais amplo da radioastronomia na sociedade e na abordagem dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Portugal conta ainda com uma forte comunidade de investigação e engenharia. Os cientistas das instituições de investigação portuguesas estão envolvidos em nove dos 14 grupos de trabalho científicos e focais do SKA, e os engenheiros nacionais trabalharam em vários aspetos da conceção do projeto, incluindo o “Telescope Manager”, “Mid-Frequency Aperture Array”, o “Signal and Data Transport”, os consórcios de “Signal and Data Transport”, e a “Power Task Force”. O ENGAGE SKA tem participado no desenvolvimento de tecnologias verdes e nos aspetos de sustentabilidade do SKA, tendo já obtido financiamento da União Europeia para desenvolvimento de protótipos ligados a antenas que funcionam a energia solar.
“Portugal está a dar um importante passo em frente na estratégia da Astrofísica e da Astronomia para proporcionar à comunidade científica não só maiores oportunidades para o desenvolvimento da ciência, mas também para o sector industrial, abrindo novas oportunidades de desenvolvimento empresarial e tecnológico“, diz Ricardo Conde, Presidente da Portugal Space. “Juntamente com a participação portuguesa em outras organizações internacionais, esta é uma oportunidade de olhar para o crescimento da comunidade científica portuguesa e para atrair jovens estudantes para estes domínios da ciência“.
No futuro, Portugal pretende tirar partido das fortes competências industriais que lhe permitirão liderar diversos aspetos do desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação que beneficiarão o esforço científico do SKA, gerando importantes oportunidades industriais e de desenvolvimento socioeconómico. Nomeadamente, tirando partido das competências industriais e científicas nacionais em redes de fibra ótica, grandes capacidades de telecomunicações, e áreas relacionadas.
Através de uma relevante presença industrial na África do Sul, Portugal está bem colocado para liderar a implantação de redes MID, uma área para a qual o ENGAGE SKA através do Instituto de Telecomunicações tem contribuído. Aliado a isto, Portugal é um importante ponto de conectividade no Atlântico, acolhendo um hub de cabos submarinos com ligações a todos os continentes, com exceção da Antártida. Isto aumenta consideravelmente o potencial nacional para ser uma peça fundamental no tecido digital de ponta, apoiando a exploração científica de excelência de uma máquina de Big Data como o SKA. “Acreditamos que estão reunidas as condições para que Portugal possa liderar o pacote de trabalho das ‘Redes MID'”, acrescenta Ricardo Conde.