Astronauta por um dia já inspirou voos parabólicos em vários países europeus
A Agência Espacial Francesa (CNES) foi a mais recente de uma série de organismos internacionais a adotar a iniciativa Astronauta por um Dia, criada pela Agência Espacial Portuguesa em 2022, e a levar os seus estudantes a flutuar em gravidade zero.
A iniciativa Astronauta por um Dia, criada em 2022 pela Agência Espacial Portuguesa, consolidou-se como uma das principais iniciativas de educação para o Espaço a nível nacional e internacional. Hoje, está na origem de programas semelhantes em vários países europeus, como o Luxemburgo, a Áustria, a Estónia e, mais recentemente, a França.
Em Portugal, 121 estudantes portugueses já viveram a experiência de flutuar em gravidade zero a bordo de um voo parabólico. Ao longo das quatro edições, a competição recebeu mais de 2000 candidaturas de todo o país, o que confirma o crescente interesse dos jovens pelo espaço. Na última edição do programa, em 2025, inscreveram-se cerca de 600 estudantes do ensino básico e secundário de todos os distritos e regiões autónomas. Pela primeira vez, registou-se uma maioria de candidaturas femininas, com 279 raparigas e 266 rapazes a concorrerem.
O formato, criado em Portugal e inspirado no recrutamento de astronautas, pretende recriar as diferentes etapas desse processo de seleção, combinando candidaturas online, provas de raciocínio e de memória, seguidas de provas de aptidão física e terminando com entrevistas e exames médicos. No final, são selecionados 30 “astronautas por um dia”. O voo parabólico é realizado a bordo do Airbus A310 adaptado para o efeito e operado pela Novespace, o mesmo avião que a ESA utiliza para o treino dos astronautas europeus.
“Ao usarmos competições como o Astronauta por um Dia, o European Rocketry Challenge (EuRoC) ou mesmo o Cubesat Portugal, tornamos o espaço real e tangível, porque os alunos não ouvem apenas falar do que será andar lá em cima, mas vivenciam-no de forma inédita. Além disso, as competições ajudam-nos a transformar temas técnicos complexos em histórias humanas com as quais as pessoas se identificam”, diz Marta Gonçalves, gestora de programas educativos na Agência Espacial Portuguesa.
De Astronauta a astronaute e estronaut
A abordagem portuguesa já foi, entretanto, adaptada por outras agências espaciais europeias. Em França, o CNES lançou o programa Astronaute d’un jour para alunos do equivalente ao 8.º ano, com uma edição piloto no início de 2025 nas regiões de Toulouse (onde se situa a sede da Novespace), Montpellier e Île-de-France, que contou com 760 candidatos e culminou na seleção de cinco estudantes para um voo em microgravidade. Entretanto, a versão francesa da iniciativa já cresceu: no próximo ano, a competição será alargada a todo o território francês. As inscrições, que encerraram há uma semana, atraíram 2 500 alunos, distribuídos por 260 estabelecimentos de ensino, reforçando a tração internacional deste modelo educativo centrado no treino de “astronautas por um dia”.
O primeiro país a adotar o modelo foi o Luxemburgo, com uma edição nacional em 2023. No ano seguinte, a Estónia organizou o concurso Eesti otsib estronauti (Estónia Procura Astronauta), que levou dez alunos estónios a um voo parabólico em Bordéus. Em 2025, a segunda edição luxemburguesa evoluiu para uma iniciativa conjunta do Luxemburgo, da Estónia e da Áustria, que culminou num voo de gravidade zero com 38 finalistas dos três países. Já na República Checa, a Zero-G Mission, uma das atividades do programa nacional Czech Journey to Space (Viagem Checa ao espaço), segue uma lógica semelhante, com um processo de seleção exigente que culmina em um voo parabólico para estudantes do ensino secundário.
Tal como em Portugal, os participantes destes programas assumem, depois, um papel ativo de embaixadores, promovendo o interesse pelo espaço nas respetivas escolas e comunidades.
“A expansão, o nível Europeu, desde conceito criado em Portugal pela Agência Espacial Portuguesa demonstra a capacidade da Agência para conceber programas capazes de mobilizar estudantes em torno da ciência, da tecnologia e da exploração espacial e, ao mesmo tempo, reforçar o papel de Portugal na educação espacial na Europa, neste caso através do Astronauta por um Dia, garantindo ao mesmo tempo a participação de jovens de todas as regiões do país e de diferentes áreas de ensino” refere Hugo Costa, diretor da Agência Espacial Portuguesa.
Em linha com a Estratégia 2040 da ESA, que coloca a inspiração das novas gerações no centro da agenda espacial europeia, o Astronauta por um Dia utiliza o Espaço como ferramenta de educação, inclusão e diplomacia científica, aproximando cada vez mais não só os jovens das oportunidades ligadas ao setor espacial, mas também as comunidades de que fazem parte.
Longe de se dirigir apenas a alunos de ciências, o Astronauta por um Dia afirma-se como um verdadeiro laboratório de talentos. Ao longo das quatro edições em Portugal, o grupo de finalistas já integrou estudantes dos percursos científico-tecnológicos, bem como de humanidades, de artes e de ensino profissional. A combinação de perfis académicos e interesses diversos, da programação e da robótica à criação artística, do desporto à comunicação, mostra que o Espaço pode ser uma plataforma de futuro para vocações muito distintas e que a próxima geração ligada ao setor espacial europeu tende a ser mais multidisciplinar, criativa e representativa da sociedade.