É tempo de partilha

Nestes tempos de mudança, de modernidade líquida, as tecnologias de observação da Terra são já uma realidade no dia a dia na gestão do fogo e da floresta, sendo expectável que num futuro próximo estas venham a ganhar um destaque ainda maior.

No Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (ver RCM n.º 45-A/2020) é referido que, na sequência dos trágicos incêndios que assolaram o país em 2017, obteve-se consenso sobre as fragilidades sistémicas identificadas pela Comissão Técnica Independente, algumas das quais crónicas e há muito referenciadas, como a falta de prevenção ou a não integração do conhecimento na gestão das operações. 

Passados quatro anos, há plena consciência da necessidade de existir informação de qualidade, atualizada e disponível. É também consensual entre os atores do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR), a ideia de que a informação relativa à caracterização do território é determinante no sucesso das operações. 

Nestes tempos de mudança, de modernidade líquida, as tecnologias de observação da Terra são já uma realidade no dia a dia na gestão do fogo e da floresta, sendo expectável que num futuro próximo estas venham a ganhar um destaque ainda maior, melhorando significativamente a eficiência de toda a cadeia de processos do SGIFR, nomeadamente no apoio ao planeamento de ações de gestão de combustíveis e fiscalização, na vigilância e deteção de incêndios, na supressão e na recuperação de áreas ardidas, entre outras.  

Mas a mudança não se fica pela componente tecnológica e o espírito de partilha também ganha tração. Entidades públicas do SGIFR, como por exemplo a Direção-Geral do Território e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, utilizam dados adquiridos por satélites, produzem informação e partilham-na, abertamente, com a toda a comunidade. Ter informação disponível é importante, mas desenvolver ferramentas capazes de gerir essa informação e transformá-la em conhecimento, acessível a todos (entidades públicas e proprietários), é fundamental. Esta partilha de conhecimento será um contributo importante na gestão do risco de incêndio, mas também na otimização da gestão florestal, permitindo incrementar o rendimento dos proprietários florestais e de toda a cadeia de valor. 

A partilha de informação e a colaboração beneficiam todos e uma estreita articulação entre as entidades do SGIFR, a Portugal Space e o ecossistema e a cadeia de valor do setor espacial em Portugal, permitirá incluir novo conhecimento e melhorar continuamente a qualidade da informação que serve de apoio às decisões.  

Não menos importante, a visibilidade que as tecnologias do espaço dão ao setor agroflorestal poderá ser um caminho para cativar gente nova, com competências diferenciadas para um setor que, salvo raras exceções, está longe da cabeça dos mais jovens. São eles que, no futuro, vão conviver com o fogo. Se ao gosto pela tecnologia (hoje inato), conseguirmos somar a sensibilização dos jovens para a importância da floresta a nível social, ecológico e económico, seremos bem-sucedidos.  

Uma vez que nos aproximamos da quadra natalícia, deixo aqui uma dica para sensibilizar os mais pequenos. Porque não passar a decorar um “pinheirinho” verdadeiro em vez de comprar uma nova árvore de plástico que dá meia-volta ao mundo até chegar à nossa casa? Existem várias iniciativas locais que disponibilizam árvores, cortadas em operações de silvicultura devidamente planeadas, que beneficiam a nossa floresta.  

Autor
Arlindo Santos
Data
21 de Dezembro, 2021
Sobre o autor

Arlindo Santos, Adjunto para o Conhecimento e Inovação na Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), é mestre em Engenharia Mecânica (ramo Energia Térmica) e mestre em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico, ambos pela Universidade do Porto. Esteve ligado ao setor da energia, iniciando a carreira na área da gestão de energia, tendo depois realizado atividades no âmbito do planeamento estratégico de desenvolvimento de infraestruturas, modelação de redes e elaboração de documentação técnica. Desde 2016 desenvolveu a sua atividade na área da gestão da inovação, tendo sido responsável pela implementação e gestão do Sistema de Gestão de Investigação, Desenvolvimento e Inovação na REN Portgás Distribuição e pela gestão de vários projetos de inovação. Desde março de 2020, é responsável pela área de assessoria para Conhecimento e Inovação na AGIF sendo, entre outros, responsável pelo projeto da Plataforma de Interoperabilidade do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.