Educação: o motor que lança sonhos para o Espaço

É essencial trabalhar para manter o fascínio pelo Espaço, prolongando-o e alimentando-o com a multidisciplinaridade do setor.

Não é descabido dizer que, para muitos, o contacto com o Espaço inicia-se desde cedo através da ciência e exploração espacial. É comum o fascínio dos mais jovens pela astronomia, depois de um primeiro contacto iluminado pelas estrelas e planetas distantes observáveis no céu noturno; não raras vezes, o sonho de ser astronauta também faz parte das aspirações dos mais novos.

Mas também é notório que, com o tempo, o deslumbramento esmorece com a perceção de que o Espaço é um local distante, de elevada complexidade, e que poucos conseguem alcançar. Mas será que é mesmo assim?

Cada vez mais, o Espaço tem um papel fundamental na nossa vida: os satélites permitem verificar a meteorologia diária e utilizar softwares de navegação, estudar os oceanos e a camada terrestre, contribuir para colheitas agrícolas mais eficientes e comunicar de forma segura ou em zonas remotas, possibilitando contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, nomeadamente relativamente à saúde e educação.

O Espaço permite que nos aproximemos um dos outros, enquanto está cada vez mais próximo de nós também. É um setor multifacetado; em todos os setores que integra, é imprescindível reconhecer a multidisciplinariedade inerente, que permite promover avanços científicos, tecnológicos e de negócio. E a sua relevância tem vindo crescer, com a criação e promoção de sinergias entre este e outros setores, e assim se prevê que continue.

Deste modo, a importância da divulgação e educação para o Espaço (e a partir dos Espaço, ou dos recursos que obtemos daí) deve crescer ao mesmo ritmo: o crescimento sustentável do setor depende da geração futura que poderá contribuir para e tirar proveito dele. Assim, é essencial trabalhar para manter o fascínio pelo Espaço, prolongando-o e alimentando-o com a multidisciplinariedade do setor.

Na realidade, o impacto da educação para o Espaço (ou através do mesmo), e nomeadamente para a astronomia, vai muito além da construção de um ecossistema espacial sustentável: a título de exemplo, um dos objetivos estratégicos da União Astronómica Internacional (IAU) é “promover o uso da astronomia enquanto ferramenta para o desenvolvimento em cada país”. É, aliás, isso que faz Rosa Doran, perfilada nesta edição, que recentemente venceu a primeira edição do Prémio de Educação em Astronomia da IAU. Contamos a sua história e da associação Núclio, que nos últimos vinte anos chegou a mais de 70 mil professores.

As ciências espaciais permitem o ensino da matemática, física, química, e uma promoção geral das ciências, permitindo um aumento de conhecimento e capacidades do público exposto e, consequentemente, contribuindo para o aumento do capital humano (com as virtudes que lhe são conhecidas enquanto fator crítico para um crescimento social e económico sustentável).

Enquanto nem todos os que são expostos às ciências espaciais se tornam físicos, matemáticos, astrónomos ou cientistas, a diversidade do sector espacial promove as áreas de STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics), que são essenciais para encarar as problemáticas tecnológicas e ambientais presentes e futuras, nos mais variados setores.

Algumas das atividades desenvolvidas pela Agência Espacial Portuguesa apontam nesse sentido. Com as primeiras edições do European Rocketry Challenge (EuRoC), comprovámos , precisamente, a necessidade de existirem sinergias entre várias áreas do saber para que o objetivo principal da competição se cumpra: o lançamento de um foguete. O concurso Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia, em parceria com a Ciência Viva – a instituição em destaque na edição deste mês da newsletter da Portugal Space -, que vai levar 30 jovens entre os 14 e os 18 anos de idade num voo parabólico,  veio frisar, também, a necessidade de se chegar aos mais novos através deste tipo de iniciativas.

É essencial a cooperação entre instituições para levar estas oportunidades a todos, e democratizar o Espaço também na Educação. E é exatamente isso que pretendemos mostrar com esta edição da nossa newsletter: que as oportunidades existem, que há quem faça por reforçar a importância da educação para o Espaço, mas também que este é um caminho longo que devemos fazer em conjunto

Por isso, as escolas e instituições dedicadas à educação e ao Espaço, as universidades, respetivos centros de investigação e empresas do setor devem mover-se com o objetivo comum de construir um ecossistema com todos e para todos que se alimente a si próprio e cresça de forma sustentável, garantindo que há Espaço para todos e que, no futuro, o nosso país possa ter uma posição de ainda maior destaque no panorama global espacial. Vamos a isso?

 Boas leituras!

Autor
Marta Gonçalves
Data
6 de Julho, 2022
Sobre o autor

Responsável pelos projetos de Educação na Agência Espacial Portuguesa