Lisboa recebe as primeiras amostras para investigação espacial
Estudo Vivaldi III, desenvolvido pela ESA e conduzido pelo Institut de Médecine et de Physiologie Spatiales, recolheu 4.380 amostras humanas. Transferência total deverá estar concluída até ao final do ano.
As primeiras amostras biológicas da Agência Espacial Europeia (ESA) chegaram ao Biobanco da Fundação GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, em Lisboa, esta terça-feira, dia 14 de outubro, marcando o início efetivo da operação do Biobanco da ESA em Portugal.
Este primeiro envio, com 1.422 amostras, serviu para testar e validar o fluxo de trabalho desenvolvido ao longo dos últimos quatro meses. No total, o estudo de origem, Vivaldi III, recolheu 4.380 amostras humanas (sangue, saliva, urina, fezes e cabelo). A transferência total deverá estar concluída até ao final do ano.
O Vivaldi III, desenvolvido pela ESA e conduzido pelo Institut de Médecine et de Physiologie Spatiales (MEDES), em Toulouse, é um estudo análogo que pretende simular os efeitos da microgravidade em missões espaciais prolongadas, tendo envolvido voluntários que permaneceram 10 dias deitados numa cama de água. Este tipo de investigação ajuda a compreender como o corpo humano reage a longos períodos de ausência de peso e confinamento, conhecimento essencial para preparar futuras missões de longa duração, nomeadamente para a Lua e Marte.
“A entrega das primeiras amostras marca a transição do conceito para a realidade no Biobanco de Exploração da ESA. Com esta primeira chegada, validamos os processos que nos permitirão preservar e gerir de forma segura materiais biológicos resultantes da nossa investigação em voos espaciais”, afirma Angelique Van Ombergen, Chief Exploration Scientist da ESA. “Este recurso apoiará futuras missões à Lua e a Marte e servirá de base para a próxima geração de cientistas que estudam como o ser humano se adapta a ambientes extremos. Estamos muito entusiasmados por ver esta colaboração estratégica com Portugal a concretizar-se e por trabalhar em conjunto no reforço do papel da Europa na medicina espacial e na exploração.”
O transporte das amostras foi realizado entre 13 e 14 de outubro, com recolha em Toulouse e entrega no Biobanco do GIMM, em Lisboa, seguindo protocolos rigorosos de segurança, rastreabilidade e conservação. A operação incluiu registo e documentação detalhada, acompanhada por técnicos das duas instituições.
“Este momento simboliza a transição do projeto para a fase operacional. Validámos, com amostras reais, todo o sistema logístico e técnico que preparámos ao longo dos últimos meses”, sublinha Sérgio Dias, co-diretor do Biobanco GIMM.
Para Maria Manuel Mota, CEO do GIMM, “a chegada das primeiras amostras é um marco de enorme significado científico e simbólico: representa o início de uma nova era de colaboração europeia na interface entre biomedicina e exploração espacial.”
O Biobanco da ESA, sediado no GIMM e integrado no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML) como um dos pilares do GIMM CARE, é a primeira infraestrutura deste tipo na Europa dedicada à preservação de amostras biológicas associadas à investigação espacial.
A operação é coordenada em colaboração com a ESA e o MEDES, centros de referência em fisiologia espacial e medicina de confinamento.
A instalação do Biobanco da ESA em Portugal representa um passo importante para a consolidação do país na área da medicina espacial. Neste contexto, a Agência Espacial Portuguesa tem vindo a trabalhar ativamente para promover o desenvolvimento de locais e infraestruturas análogas em território nacional, sendo esta iniciativa da ESA e do GIMM um complemento natural desse esforço, que reforça o posicionamento de Portugal como um ator relevante na utilização de capacidades biomédicas ao serviço da ciência europeia.