Lisboa vai guardar amostras espaciais da ESA
Instituto Gulbenkian de Ciência Molecular (GIMM) acolhe o novo repositório de amostras biológicas da Agência Espacial Europeia.
O Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular (GIMM), em Lisboa, foi escolhido pela Agência Espacial Europeia (ESA) para acolher o seu novo biobanco. A decisão foi formalizada esta semana com a assinatura do contrato entre as duas entidades e marca o arranque de uma colaboração inédita. Esta infraestrutura tornará o GIMM no único local da Europa onde serão armazenadas amostras biológicas recolhidas pela ESA — tanto em missões espaciais como em experiências realizadas em Terra.
“Receber este biobanco é um enorme reconhecimento da qualidade, solidez e agilidade da infraestrutura que construímos no GIMM, com o apoio da União Europeia, do CAML e das instituições parceiras”, afirma Maria Manuel Mota, CEO do GIMM.
Mais do que um “arquivo” de amostras, um biobanco é um pilar estratégico para a investigação científica e clínica. Estas infraestruturas permitem armazenar e preservar, com grande rigor técnico, materiais biológicos como sangue, ossos, urina, tecidos ou microrganismos. No caso do Biobanco da ESA, as amostras serão particularmente valiosas: provêm de missões espaciais, de experiências simuladas com astronautas e de estudos sobre os efeitos da microgravidade no corpo humano — como o Vivaldi III, que replica condições de ausência de gravidade através de repouso em cama inclinada ou imersão seca.
O GIMM será responsável por prestar um serviço altamente qualificado de armazenamento, gestão e coordenação logística destas amostras. A escolha de um biobanco já existente reflete a aposta da ESA numa infraestrutura operacional, com padrões exigentes de qualidade e segurança — condições que o GIMM já cumpre ao seguir os padrões da rede europeia de biobancos BBMRI-ERIC.
“A nossa infraestrutura está totalmente operacional e preparada para acolher este projeto com exigência internacional. Vamos adaptar alguns procedimentos, mas temos a base certa: equipa experiente, processos validados e uma ligação forte a contextos clínicos e académicos”, explica Sérgio Dias, co-diretor do Biobanco GIMM.
O Biobanco GIMM, pilar estratégico da iniciativa de investigação clínica GIMM CARE, está inserido no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML) e resulta de uma colaboração sólida entre o GIMM, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e o Hospital de Santa Maria (HSM). Este ecossistema garante uma proximidade ímpar à prática clínica e ao ensino, num ambiente propício à inovação. A visão inicial do projeto contou com o impulso do Prof. João Eurico da Fonseca e tem alavancado amostras clínicas recolhidas maioritariamente no HSM.
A iniciativa agora lançada com a ESA marca uma nova etapa: projeta o GIMM e o CAML para uma dimensão internacional, na intersecção entre medicina, investigação biomédica e exploração espacial.
“Este projeto liderado pela ESA servirá como uma cápsula do tempo científica – preservando amostras biológicas e ambientais de alta qualidade dos nossos estudos análogos e, mais tarde, das missões espaciais, para investigação a longo prazo”, afirma Angelique Van Ombergen, Cientista Chefe de Exploração da ESA. “Também reflete o aprofundamento da colaboração entre a ESA e Portugal através de iniciativas estratégicas, apoiando o avanço científico internacional e as capacidades da Europa na exploração espacial.”
Para Joan Alabart, gestor de programas de Exploração Espacial, Empreendedorismo e Inovação da Agência Espacial Portuguesa, “o estabelecimento deste biobanco em Portugal será um catalisador para a ciência nacional. Vai estimular colaborações com áreas como a biomedicina, a biotecnologia ou a fisiologia humana, em torno da medicina aeroespacial — uma das grandes prioridades da Agência Espacial Portuguesa”.
O Biobanco da ESA será implementado em duas fases. Os primeiros quatro meses serão dedicados ao desenvolvimento de todos os protocolos operacionais, de segurança e de transporte. As primeiras amostras deverão chegar no último trimestre de 2025. Posteriormente, a ESA utilizará o biobanco de forma faseada, à medida que novas missões e estudos forem avançando.