Na Ciência, estamos sempre na idade dos “porquês”

Hoje, mais do que nunca, importa estimular a curiosidade, o debate de ideias e a procura pelo conhecimento. É por isso que é essencial assinalar o Dia Nacional da Cultura Científica.

Compreender a ciência é ter a certeza de que nunca compreenderemos realmente, é perceber que quanto mais sabemos, menos certezas temos e que há sempre mais e mais para descobrir. É, na verdade, viver para sempre na idade dos “porquês”.  

Hoje, mais do que nunca, importa estimular essa curiosidade, o debate de ideias e a procura pelo conhecimento. É por isso que é essencial assinalar o Dia Nacional da Cultura Científica. Esta é uma data dedicada a celebrar a importância da ciência para o desenvolvimento humano e para a qualidade de vida, a sublinhar o seu contributo para criar sociedades mais pacíficas e sustentáveis e a promover a consciencialização pública para o pensamento científico. 

A data foi instituída em 1996 pelo então ministro da Ciência, Mariano Gago, numa homenagem ao professor de físico-química e poeta Rómulo de Carvalho, conhecido pelo seu pseudónimo António Gedeão, que desempenhou um papel de valor inestimável na divulgação da ciência e da cultura científica em Portugal. 

A inovação, o conhecimento e o progresso não vão cessar. Tal como não vão cessar a ciência e a necessidade de cientistas. Por isso, este dia celebra-se também para instigar a curiosidade das gerações mais novas, abrir horizontes para todos os universos que ainda há para descobrir e, claro, para convidar a sonhar. Já escrevia Gedeão em “Pedra Filosofal”: “Sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança.”  

Ao longo dos séculos, a ciência foi transformando o conhecimento em soluções concretas que permitiram melhorar a saúde da humanidade (a esperança média de vida é cada vez maior), facilitar a comunicação (estamos à distância de uma chamada ou mensagem instantânea), tornou tornar o trabalho mais eficiente (com recurso a inúmeras tecnologias) e, com isto, elevou o nosso conforto e qualidade de vida. Sabemos cada vez mais sobre o mundo e o Universo que nos rodeia. O que estudamos no passado e aplicamos com rigor permite viver hoje numa sociedade com recursos e ferramentas que tantas vezes, tomamos hoje, como garantidas. 

O que temos hoje foi construído ao longo de centenas de anos. Não devemos, por isso, desvalorizar a importância da ciência pelo tempo que pode demorar a mostrar resultados: apenas se continuarmos a respeitar e reconhecer o seu valor, a nutrir a investigação e a investir recursos de forma consistente poderemos garantir os frutos do futuro, sabendo que apenas com os esforços de investigação podemos enfrentar problemas como as alterações climáticas, a pobreza ou as desigualdades sociais. 

Todos ganham quando o pensamento científico é estimulado desde cedo e sem limites. O resultado é a formação de cidadãos com pensamento crítico, informados e mais capazes de compreender o mundo que os rodeia. A capacidade de observar, questionar e investigar dificulta a desinformação e facilita discussões construtivas em prol do progresso e da inovação.  

Quando falamos de ciência, principalmente no contexto do espaço, é comum fazer a ligação às ciências naturais — como a física, a química, a astronomia e a biologia, que nos ajudam a compreender melhor o mundo. Mas a complexidade do mundo é equivalente à complexidade das ciências em que o próprio se desdobra: disciplinas como a psicologia, a filosofia, a economia, a política ou a música são igualmente importantes para a compreensão do mundo em que vivemos como um todo. Cada uma representa uma porta de entrada para aventuras sem fim basta escolher a porta certa para cada um. 

O Espaço é uma fonte particularmente fértil de ciência. Da construção à operação de satélites, passando infraestruturas terrestres e observação do Universo, abre-se o caminho para discutir programação, eletrónica, engenharia mecânica e de materiais, ciência de dados, cibersegurança, e muitas outras áreas que, sendo diversas, são também transversais. Mas há muito mais: ao setor espacial está também associada uma economia global, regulamentação, cultura e múltiplas dimensões sociais e tecnológicas. Todas estas matérias são fundamentais para promover um setor espacial completo, diverso, inovador e rico cientificamente – mostrando repetidamente que no espaço, há espaço para todos. 

Autor
Marta Gonçalves
Data
24 de Novembro, 2025
Sobre o autor

Gestora de programas de Ciência e Educação da Agência Espacial Portuguesa.