Na New Space Atlantic Summit, a sustentabilidade foi tema para todas as conversas

A 5.ª edição da conferência organizada pela Portugal Space juntou mais de 120 atores e stakeholders do setor espacial português e internacional em Aveiro. Sustentabilidade foi a palavra-chave do evento.

O Departamento de Ambiente e de Ordenamento (DAO) da Universidade de Aveiro abriu  portas, no dia 9 de junho, para receber a 5.ª edição da New Space Atlantic Summit, evento-chave na agenda dos atores e stakeholders do ecossistema espacial nacional e europeu. Organizada pela Agência Espacial Portuguesa, a conferência chamou mais de 120 participantes à academia aveirense. No próximo ano, a New Space Atlantic Summit espera juntar ainda mais gente, mas desta vez em Guimarães, como fora anunciado por Hugo Costa, diretor da agência, ao cair do pano do evento.

A verdade é que quem passasse pelo DAO antes do início do evento deparar-se-ia com um movimento algo atípico — mas dinâmico. Às portas e no átrio do edifício, já os participantes trocavam impressões e iniciavam conversas que haviam de se alongar dia fora.

A edição deste ano da New Space Atlantic Summit deu especial atenção às tendências, às novas tecnologias, aos novos serviços e às soluções inovadoras em toda a cadeia de valor do setor espacial — e com a sustentabilidade espacial a marcar o compasso, sob o lema Making Space for a Sustainable Earth.

 

O Presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde. © Portugal Space

 

O Presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, iniciou os trabalhos com uma intervenção que ligou todos os temas que seriam debatidos ao longo das várias sessões, chamando especial atenção para o importante papel das instituições de Ensino Superior no desenvolvimento do setor espacial português. O Reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, e a Presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI), que completaram a sessão de abertura da conferência, anuíram, acrescentando a importância da descentralização de eventos como este.

Jean-Yves Le Galle, ex-presidente do CNES, tomou o palco de seguida, apresentado uma perspetiva histórica da evolução do setor espacial ao longo das últimas décadas.

A primeira sessão da manhã mostrou a vontade e a variedade geográfica do setor espacial português — para além de servir de palco para apresentação do trabalho desenvolvido pelas empesas e centro de investigação convidados. A Aurora Baptista, CEO da BEEVERYCREEATIVE, e Eduardo Soares, Innovation Director da Amorim Cork Composites (ambos a jogar em casa, já que as empresas estão sediadas em Ílhavo e Santa Maria da Feira, respetivamente), juntaram-se Nelson Oliveira, CEO da SpacEngineer (Coimbra) e Rui Curado da Silva, investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (Lisboa). Contando com a moderação de Luís Ferreira, Business andd Corporate Strategist da Airbus, os oradores debateram sobre a capacidade de desenvolvimento e inovação de novos materiais e de novos processos de produção em órbita — dos quais depende a sustentabilidade da atividade espacial.

 

A New Space Atlantic Summit é já um evento fulcral na agenda dos atores e stakeholders dos ecossistemas espaciais nacional e europeu. © Portugal Space

 

Ao longo do dia, todas as sessões se articularam sob esta mesma temática. Mas a sessão cujo tema, segundo as palavras de Ricardo Conde, constitui um dos “eixos pragmáticos” para a Agência Espacial Portuguesa, versou sobre a monitorização do lixo espacial.

Numa altura em que os veículos que enviamos para o espaço devem ser, cada vez mais, pensados, desenhados e construídos para evitar a acumulação de objetos que acabem por se transformar em lixo e deste surja o risco de colisões com os milhões de detritos espaciais que circundam a órbita terrestre, tornou-se imperativo que a New Space Atlantic Summit debatesse estas questões.

Moriba Jah, professor na Universidade do Texas – Austin, cofundador da Privateer e, acima de tudo, ambientalista espacial, ligou-se à New Space Atlantic Summit a partir dos Estados Unidos. As palavras de Moriba Jah resumiram a necessidade de se olhar para a competitiva corrida Espaço com maior cuidado: “Não há economia multimilionária para ninguém se mantivermos a quantidade de lixo espacial em órbita.”

Recado dado, seguiu-se um painel constituído por empresas e instituições empenhados em contornar esta questão, sob a moderação de Inês D’Ávila, responsável pelos projetos de Segurança e Transporte Espacial da Portugal Space. Dele fizeram parte Chiara Manfletti, diretora de operações da Neuraspace, Muriel Richard-Noca, cofundadora e Engenheiro-chefe da ClearSpace, Natália Archinard, subdiretora de Educação, Ciência, Transporte e Espaço no Departamento Federal de Negócios Estrangeiros suíço, e Stewart Bain, CEO da NorthStar Earth and Space.

 

Eyes set on the future

Nunca como agora assistimos à diminuição dos custos de acesso ao espaço o que, combinado com os sucessivos avanços tecnológicos abre portas a novos mercados de Órbita Baixa da Terra (LEO). Fabrico no espaço, manutenção em órbita, computação no espaço, estações espaciais comerciais e turismo espacial, investigação sobre microgravidade, telecomunicações, as potencialidades são inúmeras e estão a atrair a atenção de muitos investidores espaciais que antecipam um boom deste mercado nos próximos anos.

Raphael Roettgen, Managing Partner na E2MC Ventures, foi o primeiro a subir ao palco durante a tarde, e deu o mote para a conversa que se seguiu num painel moderado por Joan Alabart, responsável pelas Relações Industriais e Projetos da Portugal Space. Com ele estiveram Luca Rossettini, presidente da D-Orbit, Luís Gomes, presidente da AAC Clyde Space e Rebecca van Burken, gestora da Voyager Space, e Francisco Vilhena da Cunha, da GEOSAT. As diferentes abordagens dos oradores, provenientes de Portugal, Itália ou Estados Unidos, permitiram uma conversa aprofundada sobre a temática.

 

Throughout the day, various sessions took place in the summit. © Portugal Space

 

Durante a tarde, tempo ainda para falar sobre a importância e o papel da Conetividade Segura. Foi esse o tema da penúltima sessão do dia, que contou com Jorge Teles, do Gabinete Nacional de Segurança, Yasser Omar, professor do Técnico Lisboa, Xaviear Bertrán, vice-presidente europeu da SES e Ivo Vieira, coordenador do segmento espaço da AED e Armando Nolasco Pinto, professor da Universidade de Aveiro. Tiago Peres Pinto. Tiago Peres, responsável pelos projetos de Comunicação por Satélite e Navegação da Portugal Space, moderou um diálogo que se centrou nas necessidades e as soluções inovadoras que o Espaço pode apresentar para a Conetividade Segura.

Por fim, e uma vez que a sustentabilidade é preocupação presente para garantir um futuro melhor, fechou-se a New Space Atlantic Summit com uma conversa sobre Educação Espacial. Rui Moura, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, moderou o diálogo que juntou o coordenador da nova licenciatura de Engenharia Aeroespacial da Universidade de Aveiro, Nuno Borges de Carvalho, senta-se com Aline Veloso, da Agência Espacial Brasileira, Ana Noronha, diretora do Ciência Viva, Edson Oliveira, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Numa altura em que surgem novos cursos de Engenharia Aeroespacial nas universidades portuguesas, o painel debateu a importância de se apostar na divulgação das STEM e da cultura científica junto dos mais novos — mesmo daqueles que estão a iniciar o percurso escolar —, bem como da difusão dos temas ligados ao Espaço através dos meios de comunicação social.

Autor
Portugal Space
Data
23 de Junho, 2022