Nasceu o Observatório SKA e com ele uma nova era para a radio astronomia
O Observatório SKA, uma nova organização intergovernamental dedicada à radioastronomia, foi lançado esta quinta-feira após a primeira reunião do Conselho do Observatório. Portugal é um dos sete membros fundadores.
O Observatório Square Kilometre Array (SKAO na sigla inglesa) é a segunda organização intergovernamental de classe mundial a dedicar-se à astronomia. Portugal, representado pela Agência Espacial Portuguesa, assumiu esta quinta-feira o seu lugar de membro fundador ao lado de países como Austrália, África do Sul, Holanda, Itália e Reino Unido.
Com sede no Reino Unido, junto do Observatório de Jodrell Bank, considerado Património Mundial pela UNESCO, o SKAO terá instalações na Austrália e na África do Sul que, quando concluídas, representarão um milhão de metros quadrados de superfície de recolha de dado.
“Este é um momento histórico para a radioastronomia”, apontou Catherine Cesarsky, nomeada para primeira presidente do SKAO. “Por detrás do presente marco histórico, existem países que tiveram a visão de se envolver profundamente porque reconheceram os benefícios que a sua participação no SKA podiam trazer para a criação de um ecossistema de ciência e tecnologia que envolvesse investigação fundamental, computação, engenharia e competências para a próxima geração, que são essenciais numa economia digital do século XXI.”
A SKAO terá como tarefa construir e operar as duas maiores e mais complexas redes de radiotelescópios alguma vez construídas, capazes de abordar questões fundamentais sobre o Universo. O Observatório terá instalações na África do Sul e na Austrália. Na região de Karoo, na África do Sul, serão colocados 197 pratos de 15 metros de diâmetro, dos quais 64 já existem e estão a ser operados pelo Observatório de Radioastronomia da África do Sul (SARAO na sigla inglesa). Já na Austrália existirão 131.072 antenas de dois metros de altura, localizadas no Observatório de Radioastronomia Murchison da Organização de Investigação Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO na sigla inglesa).
Agência Espacial Portuguesa assegura representação nacional no SKAO
Membro do Observatório Europeu do Sul (ESO) desde 2020, Portugal está desde a primeira hora associado ao SKAO, o que para o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, “abre novas oportunidades a jovens, investigadores, profissionais e amadores de astronomia em Portugal para estarem envolvidos numa das mais revolucionárias iniciativas de cooperação científica a nível global, que vai tornar possível fazer astronomia de alta resolução através de qualquer um dos nossos computadores ou telemóveis portáteis”.
A criação do Observatório SKA acontece após 10 anos de trabalho na definição de prioridades científicas, de desenvolvimento de políticas e de um minucioso trabalho de detalhe de engenharia realizado pela até agora designada Organização SKA, apoiada por mais de 500 engenheiros, 1.000 cientistas e dezenas de decisores políticos em mais de 20 países.
Entre estes, um grupo de cientistas de instituições portuguesas estão envolvidos em nove dos 14 grupos de trabalho científicos e focais do SKA, e engenheiros nacionais trabalharam em vários aspetos da concepção do projeto. A participação portuguesa no SKA tem sido assegurada pelo ENGAGE SKA (Enabling Green E-Science for the Square Kilometre Array), infraestrutura nacional de investigação radio-astronómica apoiada pelo Roteiro Nacional Português para Infraestruturas de Investigação (RNIE).
A representação nacional passa agora a ser assegurada pela Portugal Space. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, considera que este passo histórico é possível “graças a um grupo de visionários e cientistas empreendedores que nos trouxe até este momento, o estabelecimento formal do Observatório SKA, um passo organizacional fundamental para a construção do telescópio SKA”. Para o líder da Portugal Space, que representa Portugal no conselho do SKA, este momento é “particularmente relevante para um pequeno país como Portugal, que tem a oportunidade de fazer parte de algo disruptivo como membro fundador”.
“A comunidade científica e industrial portuguesa está entusiasmada com a perspetiva de avançar para a implementação e execução deste grande desafio. E a Agência irá garantir que a comunidade científica terá o apoio necessário para que possa contribuir para o avançar da ciência astronómica, e o sector industrial poderá contar com novas oportunidades de desenvolvimento empresarial e tecnológico”, sublinhou ainda Ricardo Conde.
Construção avança até ao final de 2021
“O dia de hoje marca o nascimento de um novo observatório”, disse Philip Diamond, Diretor-geral do Observatório SKA. “Não é um observatório qualquer – é uma das megainstituições científicas do século XXI. É o culminar de muitos anos de trabalho e quero felicitar toda a gente da comunidade SKA e os nossos parceiros governamentais e instituições que tanto trabalharam para que isto fosse possível.”
Com 30 anos de experiência no campo da radio astronomia, o professor Philip Diamond, comanda desde 2012 a organização responsável pela pré-instalação do telescópio e foi agora designado como primeiro diretor-geral do Observatório.
“Para a nossa comunidade, trata-se de participar numa das grandes aventuras científicas das próximas décadas. Trata-se de competências, tecnologia, inovação, retorno industrial e spin offs, mas é principalmente numa viagem científica que estamos a embarcar agora”, disse ainda.
A primeira reunião do conselho do SKAO aconteceu depois da assinatura da Convenção que estabeleceu a criação do SKA, a 12 de março de 2019, em Roma, e que foi depois ratificada pela África do Sul, Austrália, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido, e que entrou em vigor a 15 de janeiro, data oficial do nascimento do Observatório.
O Conselho é composto por representantes dos Estados-Membro do Observatório, assim como de um conjunto de países observatórios que no futuro se deverão juntar ao SKAO. Uma vez terminados os processos nacionais de ratificação também a Alemanha, Canadá, China, Espanha, França, India, Suíça e Suécia deverão integrar formalmente a organização nas próximas semanas ou meses.
Agora é o momento de avançar com o planeamento das atividades de construção e com elas os primeiros contratos com a indústria, que o Conselho espera que venha a acontecer num futuro próximo.
Philip Diamond estima os próximos meses serão intensos para o Observatório, não só “na esperança que novos países formalizem a adesão ao SKAO”, mas também “com a esperada importante decisão do Conselho do SKAO de dar luz verde ao início da construção dos telescópios”.
A construção do Square Kilometre Array deverá arrancar antes do final de 2021 e prolongar-se-á pelos próximos oito anos. A organização estima que as primeiras descobertas científicas acontecem em meados desta década.