Unicórnios no Espaço? Novos mercados exigem novas ferramentas
Portugal tem uma visão para o New Space e para o tema urgente do lixo espacial, com a segurança espacial no centro da sua estratégia.
Sabemos que tal vai acontecer porque já está a acontecer: uma nova economia espacial geradora de riqueza, empregos e produtos que beneficiam toda a humanidade. A Morgan Stanley estima que a indústria espacial global, atualmente na ordem dos 350 mil milhões de dólares, será de 1 bilião de dólares em 2040. Desde constelações de satélites que fornecem internet em todo o lado, a viagens espaciais e tecnologias, a asteroides de minérios, as inovações que se avizinham e o ritmo a que estão a chegar podem parecer ficção científica, mas são reais, alimentadas por start-ups e empresários visionários. Não se enganem, este é um mercado que requer ainda muito capital, tanto na fase de investigação e desenvolvimento como para as infraestruturas. No entanto, os preços e os custos estão a diminuir (por exemplo, foguetes reutilizáveis e satélites mais pequenos e mais baratos). Além disso, os investidores olham cada vez mais para o espaço como uma área promissora para investir (e ninguém quer chegar atrasado à festa!).
De acordo com um relatório desta semana da empresa Space Capital, com sede em Nova Iorque, o investimento privado em empresas espaciais atingiu um novo recorde anual de 10,3 mil milhões de dólares em 2021, ultrapassando o recorde de 9,8 mil milhões de dólares estabelecido em 2020, com cerca de uma dúzia de start-ups de tecnologia espacial que se tornaram públicas em 2021. Nos últimos 10 anos, houve um investimento de capital no valor de 231,2 mil milhões de dólares em 1.654 empresas pioneiras na economia espacial, com destaque para os EUA e a China, que representam coletivamente 77% do total global. Sem surpresas, vemos que algumas geografias se mostram mais ativas do que outras. E a Europa? Constitui apenas cerca de 10% desse valor total.
Portugal? 56º na lista, num total de 66 países, com cerca de 1 milhão de dólares investidos nos últimos 10 anos (números de 2021). Em 2022, este número triplicou, graças aos investimentos da Armilar na Neuraspace.
O quadro não muda muito quando se trata de investimento público. O orçamento espacial dos EUA é de cerca de 45 mil milhões de dólares, em comparação com os 10 mil milhões de euros da Europa. Há que compreender que estes dois aspetos estão parcialmente ligados.
A SpaceX e a Blue Origin são sem dúvida grandes exemplos de novas empresas privadas espaciais patrocinadas pela riqueza dos seus fundadores, Elon Musk e Jeff Bezos. Mas um olhar mais atento às duas empresas revela um quadro mais matizado. A NASA adjudicou à SpaceX vários contratos nas últimas duas décadas, que vão desde o desenvolvimento de novas naves espaciais ao transporte de carga até à Estação Espacial Internacional. Ao abrigo do programa Commercial Crew, a NASA atribuiu à SpaceX mais de 3,1 mil milhões de dólares para o desenvolvimento da sua cápsula Crew Dragon. No ano passado, a NASA anunciou um contrato com a SpaceX no valor de 2,9 mil milhões de dólares para utilizar a Starship no transporte de astronautas desde a órbita lunar até à superfície da Lua. Quanto à Blue Origin, o seu conceito de uma nova estação espacial comercial – a Orbital Reef, um “parque comercial de uso misto” no espaço – tem o apoio da NASA, que atribuirá à Blue Origin e às suas empresas parceiras uma verba de 130 milhões de dólares para desenvolver a estação espacial, que a NASA espera lançar antes de 2030.
Com efeito, em todos os campeões mundiais do espaço, a relação entre clientes governamentais e clientes comerciais é ainda de 40/60, com o crescimento de um negócio a florescer de contratos de “clientes-âncora” com utilizadores governamentais, em que o sector público impulsiona a inovação revolucionária através do financiamento de empreendimentos de alto risco, que o sector privado depois operacionaliza com grande perícia e subtileza (e retribui em empregos, impostos e crescimento do PIB). É isto que a economista e conselheira política do governo Mariana Mazzucato defende no livro The Entrepreneurial State: Debunking Public vs Private Myths, com o papel do sector público na cocriação e direção de missões que conduzem a grandes inovações, e o posterior contágio ao sector privado através da comercialização (a SpaceX criou cerca de 10.000 postos de trabalho e gera receitas de mais de 2 mil milhões de dólares/ano).
E Portugal? Precisamos definitivamente de funções qualificadas que sejam bem pagas e que tenham valor acrescentado para reter o talento que as nossas universidades e politécnicos geram. Estes empregos virão principalmente do sector privado, e o novo sector privado espacial tem todas as características para o conseguir, devido aos desafios e à inovação que isso implica. Sim, os empresários têm de estar na linha da frente, assumir riscos, aplicar o dinheiro deles e o dos investidores privados e fazer as coisas acontecerem. Mas se soubermos aprender alguma coisa com o “guião americano”, então ter alguns clientes-âncora no início pode fazer uma enorme diferença no final.
Portugal tem uma visão para o New Space e para o tema urgente do lixo espacial, com a segurança espacial no centro da estratégia da agência espacial portuguesa, Portugal Space. Esta estratégia prevê a criação de 1.000 empregos no sector espacial até 2030.
Neuraspace – Novos mercados exigem novas ferramentas
A economia espacial demonstra ter todos os ingredientes para ultrapassar a barreira de 1 bilião de dólares até 2040. Mas este crescimento está ameaçado pelos detritos espaciais e pelas populações crescentes de bens ativos no espaço. Existem mais de 36.500 objetos com mais de 10 centímetros e centenas de milhões de peças mais pequenas na órbita da Terra. Este lixo pode levar a colisões e destruição de satélites operacionais, causando enormes perdas aos operadores de satélites e aos utilizadores de serviços que operam a partir do espaço.
E se em 2021 havia quase 6.000 satélites em órbita, em 2030 teremos mais de 100.000 (15x mais) devido às mega-constelações de satélites, incluindo o SpaceX/Starlink ou o OneWeb. Será uma boa notícia para a humanidade, com internet generalizada para todos, mas também aumenta a possibilidade de colisões. Os operadores de satélites já pagam um preço demasiado elevado ao realizarem manobras desnecessárias motivadas por alertas, na sua maioria falsos.
A Neuraspace está a abordar estes desafios e oportunidades do New Space. A empresa pretende resolver a questão do tráfego espacial em geral e dos detritos em particular, protegendo os operadores de satélites de colisões, bem como fornecer assistência nas manobras, reduzindo assim o impacto e os custos operacionais. Além disso, a Neuraspace debruça-se sobre as responsabilidades que resultam de abandonar/gerar detritos em órbita, permitindo às companhias de seguros um melhor preço do risco com que cada satélite é confrontado e representa. A nossa ferramenta permite a deteção de até 50% mais colisões de alto risco não detetadas até agora, protegendo assim as operações espaciais, e a redução da necessidade de intervenção humana até 2/3 e o aumento da velocidade de decisão. A solução da Neuraspace é construída sobre três pilares fundamentais i) Fusão de Dados, ii) IA e Aprendizagem Automática e iii) Automação de Manobras. A nossa inovação gira em torno da introdução da IA e da AA de uma forma nunca antes praticada. Somos uma start-up global desde o primeiro dia, com sede em Coimbra, com escritórios em Lisboa e Munique (incubada na Universidade Técnica de Munique – TUM Venture Lab Aerospace). A Neuraspace angariou 2,5 milhões de euros da Armilar Venture Partners em Fevereiro de 2022, tem uma equipa internacional experiente, clientes e parceiros mundiais, incluindo a Agência Espacial Europeia (ESA) e a GMV, o 6º maior grupo industrial do sector espacial europeu. Apesar da sua curta existência, a Neuraspace já foi escolhida por uma série de operadores comerciais conceituados para os pilotos poderem avaliar o nosso serviço de estimativa de risco de colisão e de manobras para evitar a colisão. E queremos criar 300 postos de trabalho altamente qualificados até 2025.
O espaço deve permanecer um ambiente simultaneamente seguro e sustentável. O espaço transformar-se-á na economia do 1 bilião de dólares. Assim, haverá uma nova economia espacial sustentável e esta terá os seus paladinos a nível mundial. De onde virão estes?
Acreditamos que um deles será uma empresa portuguesa chamada Neuraspace.