A incessante busca pelo conhecimento sobre o Espaço de Marta Oliveira
Aos 14 anos, Marta Oliveira soube que queria explorar o Espaço. Desde então, a hoje engenheira espacial no porto espacial europeu tem procurado alargar os seus conhecimentos - quer na ESA, NASA ou ISU.
Em Kourou, na Guiana Francesa, há poucos dias iguais. Pelo menos para Marta Oliveira, Engenheira de Segurança do Lançador Ariane 5, lançado a partir do Porto Espacial Europeu, situado naquela região sul-americana. “A função que desempenho varia muito de dia a dia. Os períodos de campanha são particularmente intensos, sobretudo na preparação dos procedimentos das operações, análises de risco, além da participação nas atividades operacionais da base”, explica a portuguesa a partir de Kourou.
É assim desde há quase um ano. Antes disso, Marta Oliveira passou pelo francês Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pela NASA. Mas o melhor é começar por onde o interesse pelo espaço surgiu: a infância.
Nascida e criada em Lisboa, Marta teve sempre “um grande interesse pelas disciplinas científicas”, um gosto que foi “sempre estimulado pela família”. É natural que o objetivo de “seguir um percurso científico” se tenha firmado cedo. Tanto que, aos 14, participou no Astronaut Training Experience do Kennedy Space Center, nos Estados Unidos. Para Marta, esta foi “uma experiência inesquecível”, que consolidou o seu “interesse na área da exploração espacial” e que também alimentou “a curiosidade para outros desafios na mesma área”.
Na hora de entrar na universidade, a escolha foi óbvia. Prosseguiu os estudos na área da Engenharia Física no Instituto Superior Técnico, tendo ainda concluído o Mestrado Integrado em Engenharia Aeroespacial na mesma instituição. “Os anos no Técnico foram anos de intensa formação, mas também de descoberta intelectual e de liberdade de escolha, nomeadamente nas especialidades que nos eram dadas a escolher depois da conclusão do tronco comum. Para além da sólida base académica proporcionada pelo Técnico, nos anos lá passados desenvolvem-se outras aptitudes, tais como a autonomia e a perseverança.”
Autonomia e a perseverança são velhos companheiros da engenheira lisboeta nas suas aventuras pelo globo, sempre em busca do conhecimento e de novas experiências. Depois do Técnico, seguiu-se outro mestrado em Ciências, mas desta vez na International Space University (ISU), que considerou “uma oportunidade única para descobrir o sector espacial a nível internacional”.
Quem poderá ter acesso a essas oportunidades são os alunos que, ao longo de dois meses, participarão na próxima edição do Space Studies Program (SSP), promovido pela ISU. O SSP, que chega a Oeiras no próximo verão, é organizado pela Agência Espacial Portuguesa e pelo Instituto Superior Técnico, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras e será uma intensa experiência de desenvolvimento profissional pensada para estudantes pós-graduados e profissionais das mais variadas disciplinas.
Marta Oliveira comprova-o: “Todos os participantes são expostos a uma formação multidisciplinar na área do espaço. Ademais, acabam por integrar uma rede extremamente diversificada de profissionais e especialistas do sector espacial, o que permite ter um contacto direto a oportunidades de aprendizagem únicas.” Em 2017, passou das carteiras para o lugar de professora como Teaching Associate na edição do SSP desse ano em Cork, na Irlanda.
A viagem pelo conhecimento de Marta Oliveira não parou — como se adivinha — pela ISU. Em 2016, teve outra experiência de estágio, mas desta vez na NASA. Na agência de aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, a lisboeta conta que teve “uma ótima introdução à divisão de exploração do sistema solar da agência”. E, após esta oportunidade, rumou ao programa de estágios da ESA (Young Graduate Trainees e National Trainees). “Foi através do programa que pude, por exemplo, participar na pré-fase A da missão a Vénus EnVision, na qual tinha trabalhado durante a tese de mestrado”, recorda.
A engenheira frisa que “muitas das oportunidades” que teve ao longo da carreira “surgiram graças a apoios nacionais como, por exemplo, bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Agência Espacial Europeia”. E o Young Graduate Trainee Program em que participou é um exemplo de como, muitas vezes, estes estágios são uma rampa de lançamento para uma carreira no setor espacial europeu.
Em 2017, iniciou funções na ESA participando em equipas multidisciplinares de concepção e avaliação conceptual de futuras missões espaciais para todos os programas da ESA, dando apoio prático de engenharia de sistemas para estudos de missões espaciais ou, mais tarde, apoiando a avaliação de propostas de programas para a Cimeira Space19+ e trabalhando na avaliação dos assuntos parlamentares e políticos das atividades dos Estados-Membros relacionadas com o espaço.
Ao longo da sua carreira, Marta já colecionou alguns momentos marcáveis. A missão mais surpreendente foi, “sem qualquer dúvida”, a do lançamento do James Webb Space Telescope. “Foi a missão mais impactante em que estive envolvida, não só pela importância do projeto em si que foi amplamente analisado e noticiado, mas também pelo espírito de equipa que se desenvolveu durante a campanha”, justifica.
Outro momento marcante foi a inclusão na lista Forbes 30 Under 30 Europe de 2020, que distingue os jovens mais promissores com 30 anos ou menos, “foi um excelente incentivo”. Mas também “aumenta a responsabilidade para os próximos anos”. E isso também se faz com o apoio de outros portugueses, que também vão dando cartas nos domínios científicos: “Portugal tem uma comunidade científica extremamente bem qualificada e reputada. Foi uma sorte e privilégio poder sempre contar com o apoio de outros portugueses na área espacial e ter a inspiração de tantos outros cientistas ou engenheiros com percursos tão notáveis.”