James Webb: Qual é o aspeto de um grão de areia na ponta de um braço esticado?

Já se conhece a primeira fotografia captada pelo telescópio espacial James Webb. Vemos um cúmulo de galáxias. A imagem é cintilante, nítida e detalhada — e abre uma janela para o universo.

Este é “um momento entusiasmante para a ciência e a humanidade”: estamos a conhecer, finalmente, as primeiras imagens captadas pelo James Webb, lançado a 25 de dezembro de 2021. A primeira imagem captada pelo telescópio espacial já foi divulgada esta segunda-feira, dia 11. Cintilante, nítida e detalhada, esta fotografia abre uma janela para o início o universo.

“A expectativa é que o James Webb nos ajude a entender mais sobre a formação do universo, o ciclo das estrelas, os planetas fora do nosso sistema solar e como evoluem as galáxias”, explica o astrónomo e gestor de projetos científicos da Agência Espacial Portuguesa, Cláudio Melo. O também astrónomo salienta que graças ao sucessor do histórico Hubble “vamos ter uma noção do potencial científico e das descobertas que estarão por vir”.

Mas o que nos mostra este primeiro instantâneo? Primeiro, milhares de galáxias localizadas a 4,6 mil milhões de anos-luz de distância. Esta é a “imagem com tecnologia infravermelha mais profunda e nítida do universo até agora”.

 

© NASA, ESA, CSA, e STScI

 

“Esta imagem é de um cúmulo de galáxias, o SMACS 0723. Por ser muito massivo, distorce o espaço-tempo e permite que a luz de objetos muito fracos que estao por trás do cúmulo possam ser vistos. É o fenómeno de lentes gravitacionais”, explica Cláudio Melo. Isto acontece porque “a lente amplifica a luz dos objetos de fundo, mas como o alinhamento não é perfeito, a imagem que nos chega é distorcida” — e é por isso que vemos “galáxias em formas de arcos”.

Para o astrónomo, “é impressionante a nitidez” e “a quantidade de detalhes” da imagem, que resulta de “apenas 10 horas de observação”. “Se fizerem zoom, verão a quantidade de galáxias na imagem, e cada uma delas tem aproximadamente dez mil milhões de estrelas.” Mas o que vemos é apenas “é uma região do céu equivalente a um grão de areia na ponta de um braço esticado”: “É difícil não nos emocionarmos com a perspetiva cósmica que nos dá esta imagem e não pensar no nosso planeta.”

Esta terça-feira ficaremos a conhecer mais imagens do James Webb: a nebulosa Carina (“uma nuvem de gás e poeiras a cerca de 7600 anos-luz da Terra e que abriga estrelas muito mais maciças do que o Sol”, como se lê no Público); da nebulosa Anel Sul, em fim de vida; do conjunto de galáxias Quinteto de Stephan, que estão em colisão; e “um espectro do WASP.96b, um exoplaneta que tem metade da massa de Júpiter”.

Ainda hoje, a partir das 15h15, no Pavilhão do Conhecimento da Ciência Viva, o ESERO Portugal e a Ciência Viva acompanharão em direto o livestream da ESA/Webb, com comentários e tradução simultânea em português. Cláudio Melo junta-se a um painel de especialistas que comentará estas imagens, composto também por Alexandre Cabral (do Departamento de Física da Ciências Universidade de Lisboa e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço), Ana Afonso (do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto) e José Afonso (Departamento de Física da Ciências Universidade de Lisboa e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.

O James Webb é o maior e mais poderoso telescópio alguma vez lançado para espaço. Resulta de um projeto desenvolvido pela NASA, pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pela Agência Espacial do Canadá.

Autor
Portugal Space
Data
12 de Julho, 2022