Portugal Space reúne 150 utilizadores do programa Copernicus em Évora

A I Conferência Nacional Copernicus, organizada pela Agência Espacial Portuguesa, decorreu a 22 e 23 de Março em Évora. A cidade alentejana foi palco de uma troca de conhecimentos entre vários stakeholders da área da Observação da Terra.

 

Ao longo de dois dias, o Auditório Nobre do Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora foi o ponto de encontro da comunidade portuguesa de utilizadores do Copernicus. As aplicações reais e as potencialidades das várias componentes do programa europeu de Observação da Terra marcaram o compasso na I Conferência Nacional Copernicus, organizada pela Agência Espacial Portuguesa – Portugal Space, em colaboração com a Universidade de Évora, nos dias 22 e 23 de março de 2022.

Com um programa que contemplou uma grande variedade de temas, desde projetos ligados à gestão de recursos naturais terrestres e marinhos a programas de empreendedorismo e inovação, o evento reuniu em Évora cerca de 150 utilizadores dos dados Copernicus, numa troca de conhecimentos entre empresas, administração pública e academia. O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, presidiu à abertura da conferência, considerando que a I Conferência Nacional Copernicus “marca um passo importante naquilo que é a construção do futuro”, sendo “um marco muito importante da estratégia portuguesa para o espaço, Portugal Space 2030”.

Deixando antever o que os participantes poderiam esperar ao longo dos dois dias, o ministro salientou que “a organização das sessões mostra os desafios particularmente críticos que hoje temos de enfrentar na gestão do território, no mapeamento dos níveis de carbono e das condições a partir das quais o território pode servir para o sequestro de carbono”, apontando que é necessária uma “articulação de áreas de conhecimento muito diferentes, entre instituições publicas e privadas, empresas e organizações governamentais”.

Já o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, frisou que o Copernicus é o “porta-estandarte europeu de excelência e de democracia” e que a conferência é determinante para “reunir respostas para daqui a dois ou três anos”. Com stakeholders de todas as áreas presentes na Universidade de Évora, Ricardo Conde deixou um desafio à academia portuguesa “para colocar Portugal numa outra posição” no que diz respeito à utilização dos dados de satélite, especialmente tendo em conta os projetos nacionais em desenvolvimento referindo como exemplo a constelação de satélites (Atlantic Constellation), para que estas tecnologias espaciais possam responder às necessidades de preservação e utilização sustentável dos recursos, , colocando-as ao serviço da economia e do conhecimento.

A Reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas, sublinhou a importância da I Conferência Nacional Copernicus para “estimular a base dos utilizadores”. “Os dados de Observação da Terra são valiosos e diversificados. Temos de estar mais atentos para podermos tirar benefício destes e preparar novas gerações para a velocidade a que o mundo gira”, acrescentou. Nesse sentido, a Reitora da Universidade de Évora chamou a atenção para o EARSLab, o Laboratório de Deteção Remota criado recentemente por aquela academia.

 

A importância de articular conhecimentos

Em Évora estiveram presentes representantes da Direção Geral do Território e do AIR Centre, que também apoiaram a Portugal Space na organização deste evento, bem como de outras entidades públicas nacionais como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Instituto Hidrográfico, o Instituto para o Financiamento da Agricultura e Pescas, ou o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), por exemplo. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil, também presente, explicou de que forma a tecnologia InSAR está a permitir monitorizar as infraestruturas do Metro do Porto.

Houve também apresentações de empresas do ecossistema espacial português. Foi o caso da Agroinsider, que utiliza os dados dos satélites Sentinel-1 e Sentinel-2 para facultar aos agricultores produtos de valor acrescentado; ou da GMV que utiliza os dados para fornecer informação sobre poluição marinha, gestão de emergências e segurança. A Edisoft e a Development Seed marcaram presença com a apresentação das suas atividades na área da deteção de derrames de hidrocarbonetos em meio marinho; e a SpinWorks deu exemplos de como dos dados estão a ser usados na apoio à viticultura de precisão. A operadora portuguesa de satélites GEOSAT demonstrou as diferentes aplicações dos dados de satélite de muito alta resolução (VHR na sigla inglesa). Já a EyeCon apresentou a SOILRISK, uma aplicação de modelo preditivo de alta resolução para deslizamentos de terra.

A Eyecon apresentou ainda a proposta de deteção automática de blooms de algas tóxicas (HABTRAIL) com que venceu a última edição do Portugal Space Challenge, realizado no âmbito dos Copernicus Masters, organizados pela AZO. A LS Engenharia mostrou à comunidade a sua solução para mapeamento de batimetria costeira com que venceu o prémio Regional Açores na mesma competição. A inovação foi discutida ainda com o Instituto Pedro Nunes, organismo que gere o programa ESA BIC Portugal, e a Spotlite, uma start-up de monitorização de infraestruturas, que já conseguiu captar investimento de privados em Portugal.

Para reforçar a articulação entre diferentes esferas e atores, a conferência reuniu ainda centros de investigação, com o CoLab +Atlantic e várias universidades representadas: Évora, Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra, Porto, Açores, Algarve e ainda o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. A Ciência Viva, também presente, falou da importância de preparar a gerações mais jovens e de comunicar as várias aplicações da Observação da Terra. Nas sessões participaram ainda os representantes do programa na Comissão Europeia e dos seis serviços Copernicus e da Agência Espacial Europeia (ESA).

Para além das várias comunicações orais, estiveram ainda expostos, em formato póster, 18 trabalhos, exemplificando visualmente o uso de dados de satélite em áreas como a Monitorização do Meio Terrestre, Alterações Climáticas e Monitorização da Atmosfera e Monitorização do Meio Marinho.

A I Conferência Nacional Copernicus contou com um total de 11 sessões, divididas em temáticas como a Monitorização do Meio Terrestre, Alterações Climáticas e Monitorização da Atmosfera, Observação da Terra para a Agricultura, Monitorização do Meio Marinho e Gestão de Emergências e Segurança, havendo ainda espaço para apresentações de projetos alunos de pós-graduação e de Start-ups de Inovação Copernicus. “Esta multiplicidade de temas, bem como a quantidade de apresentações que conseguimos reunir em Évora, mostra que existe uma comunidade crescente de utilizadores do programa Copernicus em Portugal. É gratificante perceber que esta iniciativa, que se estreia em Évora, teve a participação de várias entidades públicas e privadas, desde empresas a universidades”, afirmou Carolina Sá, gestora de projetos de Observação da Terra da Agência Espacial Portuguesa. “Tal como o ministro Manuel Heitor referiu na sua intervenção, é necessário existir esta articulação entre vários atores para levar o conhecimento avante, fazê-lo chegar a mais pessoas e mostrar que os satélites têm, de facto, aplicações muito diversas e que podem contribuir para a solução de muitos desafios que enfrentamos atualmente”.

Foram ainda atribuídos dois prémios para os estudantes que participaram na conferência: um prémio para melhor póster, decidido através dos votos dos participantes, e outro para a melhor comunicação de estudante, decidido por um júri.  O prémio de melhor poster foi atribuído a Filippe Santos, com um trabalho focado na análise de riscos de incêndio com dados de Observação da Terra, já o prémio de melhor comunicação de estudante foi para Francesco Valerio, com um trabalho que explora o uso de dados de satélite na biologia de conservação. Ambos os premiados são da Universidade de Évora.

Autor
Portugal Space
Data
24 de Março, 2022