Critical Software e Deimos lideram dois dos subsistemas da ClearSpace-1

A Agência Espacial Europeia assinou hoje o contrato de 86 milhões de euros para levar a cabo a primeira missão de remoção de lixo espacial. A missão ClearSpace1, prevista para 2025, contará com a liderança de empresas portuguesas em dois dos principais subsistemas do satélite.

O satélite ClearSpace-1 utilizará o braço robótico desenvolvido pela ESA para capturar o Vespa e depois efectuará uma reentrada atmosférica controlada.

Cerca de um ano depois de ter aprovado o programa ADRIOS (Active Debris Removal and In-Orbit Servicing), a Agência Espacial Europeia (ESA) e a suíça ClearSpace assinaram, a 1 de Dezembro de 2020, o contrato que permite o início das operações de uma missão histórica e de um serviço único: a remoção de um item de detritos espaciais da órbita da Terra. A missão vai envolver quatro empresas portuguesas.

Se o projecto correr como planeado, a ClearSpace lançará em 2025 a primeira missão de remoção de destroços activos. A ClearSpace-1 irá recolher, capturar e transportar para a reentrada na atmosfera um adaptador de carga útil, denominado Vespa. Uma vez recolhidos, tanto o satélite ClearSpace-1 como o Vespa, com cerca de 100 kg e o tamanho de um pequeno satélite, serão destruídos na reentrada na atmosfera.

Desenvolvido no âmbito do programa ADRIOS, este contrato é o primeiro passo para uma órbita terrestre mais limpa, mas também representa “um marco crítico para o estabelecimento de um novo sector comercial no espaço”, escreveu a ESA em comunicado. Invés de desenvolver uma missão a ser realizada pela agência, a ESA está a adquirir a prestação de um serviço end-to-end, o que representa uma nova forma da agência se relacionar com o ecossistema.

As empresas portuguesas vão liderar dois dos subsistemas da missão ClearSpace-1, uma presença significativa que resulta do compromisso assumido por Portugal para a primeira fase da missão ADRIOS, aprovada no Conselho Ministerial realizado em Novembro de 2019, Space19+, num valor global de 7,5 milhões de euros.

O envolvimento de empresas nacionais no Clearspace-1 é uma forma de “assegurar que Portugal alcança uma vantagem competitiva de longo prazo num dos maiores desafios do nosso tempo”, afirma Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. “A Europa está assumir a liderança da procura de soluções que evitem que os detritos espaciais não venham a ser uma fonte de perturbação da nossa economia, do modo de vida e bem-estar das populações. E Portugal, que pretende assumir a coordenação no desenvolvi mento de sistemas e subsistemas espaciais, não poderia ficar para trás.”

“Ao estarmos envolvidos no programa ADRIOS mostramos que estamos empenhados em garantir a sustentabilidade do ambiente espacial”, afirma Ricardo Conde.

 

Portugal constrói “sistema neurológico” da missão

A Deimos Engenharia lidera o consórcio, que que inclui ainda as portuguesas Lusospace e ISQ e a alemã DLR, que desenvolverá os sistemas de Orientação, Navegação e Controlo (GNC) que irão comandar  o movimento do satélite, sistema que é também conhecido como “piloto automático” de satélite. O consórcio será também responsável pela realização de testes para apoiar a Clearspace na montagem, integração, testes e operação da missão.

“Este é o resultado natural de um longo caminho de I&D em tecnologias GNC para os chamados ‘rendez-vous’ não-colaborativos – a interacção com um objecto do qual não temos controlo, como um satélite à deriva. Temos vindo a consolidar esta área tecnológica há mais de 10 anos e conseguiremos qualificá-la com uma missão muito especial que abrirá uma nova era de serviços espaciais”, afirma Nuno Ávila, director-geral da Deimos Engenharia.

“De uma forma global, vamos conferir a inteligência desta missão”, diz Nuno Ávila, explicando que o conjunto das empresas portuguesas respondem por uma parte significativa “do sistema neurológico da nave que fará com que ela consiga cumprir a sua missão”.

A Critical Software irá liderar o desenvolvimento do software de bordo, bem como dos sistemas que irão gerir a captura do Vespa, a detecção e recuperação de falhas do sistema, o controlo do equipamento, e a gestão térmica e energética da nave.

“É a primeira vez que temos empresas portuguesas a liderar subsistemas de grande importância numa missão”, sublinha Mauro Gameiro, engenheiro principal na Critical Software. “Diria que a missão tem cinco ou seis sistemas principais e temos duas empresas portuguesas a liderar esses subsistemas.”

“Isto representa para Portugal uma subida fundamental na cadeia de valor dos sistemas espaciais, o que nos dá uma credibilidade acrescida para missões futuras. É certamente um atestado de credibilidade técnica do qual nos devemos orgulhar”, acrescenta Nuno Ávila, sublinhando que “o facto das nossas empresas terem sido atribuída esta responsabilidade não foi um acaso. Foi uma competição em toda a europa com os melhores dos melhores”.

Como referido, a LusoSpace e o ISQ fazem parte do consórcio liderado pela Deimos Engenharia. Segundo Ivo Vieira, director executivo da Lusospace, a empresa “assegurará que todos os fornecedores de componentes dos sistemas GNC satisfazem os diferentes requisitos”.

Já o ISQ irá realizar testes de qualidade do início ao fim da construção do satélite, assegurando que o ClearSpace-1 não se torna em mais um resíduo espacial, contribuindo para agravar o problema invés de o resolver. “Se um dispositivo colide com outro, pode produzir uma reacção em cadeia”, diz Paulo Chaves, responsável pelo Mercado Aeronáutico e Espacial no ISQ.

A urgência da missão ClearSpace1 é o resultado da existência de mais de 750.000 objectos em órbita com um tamanho superior a 1 cm. Estes objectos coexistem com cerca de 3.000 satélites inactivos, de um total de 4.500 que orbitam a Terra, e todos os anos cerca de 100 toneladas de destroços reentram na atmosfera terrestre de forma descontrolada.

Com uma média de cerca de 100 novos lançamentos por ano, as projecções dos especialistas estimam que o número de detritos no Espaço irá aumentar exponencialmente.

A missão ClearSpace-1 não é apenas um teste. Visa antes demonstrar a capacidade técnica e comercial para melhorar significativamente a sustentabilidade a longo prazo dos voos espaciais. A startup suíça espera desenvolver o processo de modo a torná-lo mais barato e mais frequente, utilizando idealmente dispositivos que possam ser reutilizados. Ao mesmo tempo, a comunidade espacial internacional procura estabelecer regras para forçar aqueles que lançam satélites a assumir a responsabilidade pelo desperdício que produzem no espaço.

Autor
Portugal Space
Data
1 de Dezembro, 2020