Equipa liderada por portuguesa descobre exoplaneta com a forma de uma bola de rugby

Missão espacial CHEOPS, da ESA, que conta com a participação de três empresas portuguesas,
detetou pela primeira vez a deformação de um exoplaneta.

O Wasp-103b é um exoplaneta de várias particularidades. Orbita uma estrela 1,7 vezes maior e cerca de 200 graus mais quente do que o Sol. Além disso, está extremamente próximo da sua estrela — tanto que leva apenas um dia a completar uma órbita. Há muito que os cientistas desconfiavam que as desmedidas forças provocadas pela estrela “resultariam numa enorme deformação do planeta”, como indica o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro) em comunicado, mas ainda não tinha sido possível confirmá-lo. Até agora. 

A exatidão extrema do CHEOPS (Characterising Exoplanet Satellite) veio dar como certas as suposições dos astrónomos. As observações realizadas pela missão da Agência Espacial Europeia (ESA) serviram de base ao estudo de uma equipa internacional liderada pela investigadora Susana Barros, do IAstro, que, pela primeira vez, detetou a figura deformada de um exoplaneta.  

Mais uma peculiaridade do Wasp-103b: este exoplaneta tem a forma aproximada de uma bola de rugby. Combinando-se as “observações de trânsitos do exoplaneta, efetuadas pelo CHEOPS”, com dados dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer, a equipa concluiu que o planeta em questão é “mais largo no equador do que nos polos” — daí a forma semelhante à de uma bola de rugby. 

“Este resultado é fruto de vários anos do nosso trabalho no IAstro, para desenvolver modelos de deformação de planetas e modelos de análise de dados de extrema precisão. Isto permitiu-nos liderar este estudo dentro do consórcio do CHEOPS, cuja extrema precisão permitiu detetar pela primeira vez a forma deformada de um exoplaneta”, explica Susana Barros, citada em comunicado do IAstro. O estudo foi publicado na revista Astonomy & Astrophysics. 

Satélite com tecnologia portuguesa 

Além do Instituto de Astrofísica, esta missão da ESA envolve mais três empresas portuguesas. Na liderança da componente científica do CHEOPS está, com o IAstro, a Deimos Engenharia.  

Em 2019, o diretor-geral da Deimos Engenharia, Nuno Ávila, explicava à Agência Espacial Portuguesa que a empresa desenvolveu “dois dos componentes mais importantes do centro científico do CHEOPS, sendo o principal o sistema de planeamento, que vai recolher todos os pedidos de observação da comunidade científica ao longo da vida útil dos satélites”.  

Por outro lado, a FHP está a garantir que a temperatura interna se mantém constante permitindo que os equipamentos aguentem a amplitude térmica extrema do espaço. A empresa desenhou e produziu as proteções conhecidas como isolamento multicamadas (MLI, na sigla inglesa), que permitem que a estrutura do telescópio, o radiador e a mesa ótica possam suportar a amplitude térmica extrema do espaço, que varia entre as elevadas temperaturas provenientes do Sol ou o zero absoluto (cerca de -273.º C) no lado oposto ao Sol. Por fim, a LusoSpace foi responsável pelo fornecimento de dois magnetómetros – sistema usado na medição da força e direção do campo magnético da terra – que serão usados na navegação do satélite. 

Maior, mais pesado e mais quente do que Júpiter 

As observações do CHEOPS também podem revelar informações sobre a estrutura interna do exoplaneta, nomeadamente esclarecendo quanto do planeta é formado por rochas, água ou partes gasosas, “pois a resistência de um material a ser deformado depende da sua composição”. 

No caso do Wasp-103b, os cálculos sugerem “uma composição interna semelhante” à de Júpiter, “embora os planetas estejam em ambientes muito diferentes”, lê-se no comunicado do IAstro. A investigadora aponta que “seria de esperar que um exoplaneta com 1,5 vezes a massa de Júpiter tivesse mais ou menos o mesmo tamanho”, mas este tem duas vezes o diâmetro do maior planeta do Sistema Solar.

  © European Space Agency

O trabalho dos investigadores do IAstro parece, no entanto, estar ainda a começar e serão necessárias novas observações com o CHEOPS, a complementar com os dados recolhidos pelo telescópio espacial James Webb, para desvendar outros dos mistérios deste exoplaneta. Até porque a equipa deparou-se com uma nova questão: “As forças de maré num planeta tão próximo da sua estrela normalmente provocam um abrandamento da sua órbita, levando a órbita do planeta a decair, até este ser eventualmente engolido pela estrela. No entanto, a velocidade orbital do WASP-103b parece estar a aumentar, com o planeta a afastar-se da estrela”. Para esclarecer se esse aumento de velocidade existe e, se existir, o que o provoca, serão necessários dados adicionais.  

O CHEOPS leva a cabo a primeira de uma série de três missões, que incluem ainda a Plato e a Ariel (também com expressiva participação portuguesa), planeadas para esta década, com o objetivo de abordar diferentes aspetos da investigação científica de exoplanetas. 

Autor
Portugal Space
Data
11 de Janeiro, 2022