Na Portugal Space, dá-se Espaço aos mais jovens
— e aposta-se no futuro

Lançar foguetes, voar em gravidade zero, participar em programas multidisciplinares com as maiores personalidades do setor espacial a nível global. Estas são algumas das possibilidades promovidas e fomentadas pela Agência Espacial Portuguesa,
que vê nos jovens estudantes portugueses o futuro do ecossistema espacial português.

O launch rail (plataforma de lançamento de foguetes) prateado parece minúsculo visto de longe. Apontado para o céu alentejano, sustenta mais do que o foguete colorido que há de levantar voo: é também ali que se concentram os sonhos dos participantes do European Rocketry Challenge – EuRoC, competição de lançamento de foguetes (rockets) de equipas universitárias promovida pela Agência Espacial Portuguesa – Portugal Space desde 2020, em parceria com o Município de Ponte de Sor e, mais recentemente, também com o apoio do Exército Português.

Nos momentos que antecedem cada lançamento, o frémito que, ao longo de quase uma semana, se instala no Campo Militar de Santa Margarida (no município de Constância), é interrompida pelo silêncio. Todos os olhos estão postos no launch rail. Ouve-se a contagem decrescente e a palavra de ordem, ignition (ignição), e o fumo branco começa a avistar-se. É bom sinal, mas não o suficiente. É preciso ver o foguete descolar para que se faça a festa.

Descolagem feita, a alegria da equipa que viu o seu foguete a rasgar o céu é acompanhada pela dos que aguardaram, com eles, por este momento. Há aplausos, gritos e abraços. Ali não há concorrentes. As derrotas e as vitórias de uns são de todos. “É um dos melhores momentos de toda a competição e justifica, em muito, o porquê de termos arriscado avançar com este projeto”, diz Marta Gonçalves, responsável pelos projetos de Educação da Agência Espacial Portuguesa.

 

O EuRoC tem crescido de ano para ano. © Portugal Space

 

A competição, que surgiu em 2020 para dar resposta às equipas que viram os seus projetos suspensos com o cancelamento da competição do Spaceport America Cup, é a única do género na Europa. Começou de forma tímida, com seis equipas. Um ano depois, em 2021, seriam 20. “Este ano chegamos às 25 equipas. É ainda mais desafiante, mas o nosso propósito é que a competição evolua. À terceira edição, podemos dizer que o EuRoC é paragem obrigatória para estas equipas europeias”, afirma Marta Gonçalves.

O EuRoC é uma das várias apostas da Agência Espacial Portuguesa na área da Educação, sendo um dos pilares estratégicos da sua atuação desde a fundação, em 2019. Está explícito no Eixo 3 da estratégia Portugal Espaço 2030, que apela à necessidade de estimular as competências técnicas, formando e atraindo recursos humanos qualificados e promovendo atividades em colaboração com parceiros europeus e internacionais, através da investigação científica, inovação, educação e a promoção da cultura científica.

A presença de duas equipas portuguesas na edição de 2022 do EuRoC, uma que junta alunos da Universidade da Beira Interior e da Universidade de Coimbra e outra repetente do Instituto Superior Técnico, que se estreou em 2021, é um primeiro sinal da necessidade (e efetividade) destas apostas.

 

Oportunidades para todos

Apesar do progresso alcançado nos últimos 20 anos, o setor espacial nacional tem ainda grandes desafios e barreiras a superar de modo a aumentar a sua dimensão, influência e competitividade, designadamente em termos do impacto da capacidade instalada na economia e na sociedade. Quanto mais cedo começarmos a agir, maior será o impacto no futuro.

O sucesso do EuRoC confirmou a necessidade de organização projetos que chegassem a mais estudantes, e de outras faixas etárias, e que promovam o interesse dos mais novos pelas STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) e que mostrem as muitas possibilidades que o Espaço tem para oferecer.

No final do verão de 2021, a equipa da Agência Espacial Portuguesa iniciou a conceção do que viria a ser o Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia, destinado a estudantes dos ensinos básico e secundário que tenham entre 14 e 18 anos de idade. No final, serão selecionados 30 candidatos para um voo em gravidade zero em que poderão experienciar o  que os astronautas sentem no Espaço. O concurso conta com o apoio da Ciência Viva, para além da colaboração da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa e da Força Aérea Portuguesa.

 

O Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia veo alargar o espectro de atividades promovidas pela Portugal Space. © Portugal Space

 

“A Agência Espacial Portuguesa quer chegar a todos os jovens e este concurso alarga esse espectro. Os candidatos do Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia estão num momento da sua vida onde terão que decidir o seu futuro no ensino secundário ou estão prestes a entrar no ensino superior”, enquadra Hugo Costa, diretor da Agência Espacial Portuguesa. “Para além disso, e porque esta atividade é algo inédito em Portugal, procuramos, ao máximo, chegar a todo o país. E a verdade é que tivemos candidatos de todos os distritos portugueses”, acrescenta. Dos 460 candidatos iniciais, restam, à 4.ª fase do concurso, 60. Desses, 30 serão selecionados para o voo parabólico.

“É sempre difícil deixar participantes para trás neste tipo de concursos, quando sabemos que o entusiasmo pelo Espaço, pelas ciências e tecnologias os fez participar inicialmente. Mas ao tentar replicar o processo de seleção de astronautas da ESA, sabíamos que teríamos fases eliminatórias. Tivemos provas de interpretação e perceção espacial, aptidão física e, agora, uma fase de entrevista. Serve para mostrar que um astronauta, ou um profissional do Espaço, se faz de várias valências, das humanidades às ciências, e nem sempre ligadas à física e matemática”, indica Marta Gonçalves.

 

O Espaço na Universidade

Concursos como o Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia podem abrir a porta para um caminho no Espaço. Mas há outras iniciativas que podem firmar certezas e aprofundar conhecimentos de estudantes de cursos académicos — sejam eles ligados ao Espaço ou não.

Para os estudantes universitários com interesse no Espaço, a Portugal Space lançou em 2021 um conjunto de bolsas de doutoramento, distribuídas por quatro concursos, com o objetivo de reforçar a investigação, formação e inovação espacial. Promovidas pela Agência Espacial Portuguesa, as bolsas de doutoramento nas áreas como a Observação da Terra, Segurança Espacial e I&D de Tecnologia Espacial, entre outras, nasceram de um acordo com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que suporta financeiramente o programa e é a entidade responsável pela contratualização dos candidatos selecionados.

O objetivo, resume Marta Gonçalves, é fomentar “a investigação científica não só no Espaço, mas também noutros campos a ele ligados, uma vez que esta é uma área que pode ser integrada em várias áreas de estudo”.

A multidisciplinaridade do sector espacial é uma das oportunidades de crescimento do ecossistema e uma mais-valia que a Portugal Space tem procurado promover, nomeadamente ao valorizar a diversidade de disciplinas na constituição das equipas participantes no EuRoC. Provenientes de diversas áreas de conhecimento, que vão desde as engenharias à gestão, do cinema à biologia, as equipas representam um microcosmo do que é a realidade no sector e que também está presente entre os participantes do Space Studies Program (SSP), da International Space University, que este ano acontece em Oeiras.

 

SSP traz 107 participantes de vários países a Oeiras. © Portugal Space

 

Já na sua 34.ª edição, o SSP, que decorre entre 27 de junho e 26 de agosto, é um curso intensivo de desenvolvimento profissional pensado para recém-graduados e profissionais das mais variadas disciplinas, vindos de várias partes do globo. A organização desta edição está a cargo da Agência Espacial Portuguesa e do Instituto Superior Técnico (Técnico).

“O SSP2022 configura mais um passo na concretização da estratégia Portugal Espaço 2030, colocando a Portugal Space, uma vez mais, como promotora de oportunidades associadas à educação e ao desenvolvimento de capacidades do setor espacial e ligada a uma universidade internacionalmente reconhecida neste setor. É também uma forma de ligar o nosso ecossistema nacional aos experts internacionais que por cá vao passar”, reforça Hugo Costa. O curso contará com invited co-chairs da Agência Espacial Portuguesa: Joan Alabart, responsável pelas Relações Industriais e Projetos, e Carolina Sá, responsável pelos projetos de Observação da Terra, entre inúmeros formadores nacionais e internacionais, incluindo professores provenientes de algumas das mais prestigiadas organizações e agenciais espaciais.

Nesta edição do SSP, Portugal estará representado pela participarão de nove estudantes, que receberam bolsas comparticipadas pela Portugal Space. “É mais um reflexo do nosso esforço em promover o Espaço junto da comunidade estudantil, mais especificamente na universitária”, constata o Presidente da Agência Espacial Portuguesa. Para Ricardo Conde, “não basta apenas promover este tipo de iniciativas”: “É preciso facilitar o acesso a projetos, cursos e oportunidades no Espaço. Democratizar o acesso ao Espaço também é isso — e os jovens portugueses que participam no Zero-G Portugal, no EuRoC ou no SSP são o futuro que sustentará e levará ainda mais longe o nosso ecossistema.”

Autor
Portugal Space
Data
5 de Julho, 2022