2022: o ano em revista (a partir do Espaço)

Os pontos positivos do ano que agora termina no setor espacial a nível global e nacional — das magníficas descobertas na astronomia aos lançamentos mais esperados, passando pelos eventos que marcaram o ano e a aposta nacional no fortalecimento do ecossistema espacial português. 

O ano que se avizinha exige resiliência, união de esforços e uma maior capacidade de adaptabilidade — esta era a mensagem no inicio de 2022, mas, na verdade, este foi  um ano muito mais instável do que inicialmente previsto. Foi um ano incerto e, por consequência, sobressaíram fragilidades nas mais variadas esferas a nível europeu e mundial.

Ainda assim, houve boas notícias e motivos para celebrar a todos os níveis, e o setor espacial não foi exceção. Por isso, deixamos aqui alguns dos (muitos) pontos positivos do ano que agora termina no setor espacial a nível global e nacional — das magníficas descobertas na astronomia aos lançamentos mais esperados, passando pelos eventos que marcaram o ano e a aposta nacional no fortalecimento do ecossistema espacial português.

O ano da astronomia?

O Natal de 2021 serviu de pretexto para desembrulhar um presente esperado há três décadas: o lançamento do telescópio espacial James Webb, uma parceria da NASA, Agência Espacial Europeia (ESA) e Agência Espacial Canadiana (CSA). Não havia margem para falhas para o telescópio que prometia abrir uma janela sobre novos mundos. Meses depois, a espera compensou. Em julho foi desvendada a primeira imagem captada pelo James Webb: a mais profunda, cintilante, nítida e detalhada fotografia do Universo, composta por milhares de galáxias localizadas a 4,6 mil milhões de anos-luz de distância. Como frisou na altura o astrónomo da Agência Espacial Portuguesa, Cláudio Melo, “é impressionante a nitidez” e “a quantidade de detalhes” da imagem, que resulta de “apenas 10 horas de observação”. Mas o que vimos representa apenas “uma região do céu equivalente a um grão de areia na ponta de um braço esticado”.

Desde então, esta maravilha da astronomia já nos mostrou as galáxias mais distantes que alguma vez conhecemos, estrelas a morrer, um quinteto de galáxias e um novo retrato dos Pilares da Criação. Vimos ainda Júpiter e Neptuno com uma precisão até agora inigualável.

 

A primeira imagem captada pelo James Webb. © NASA/ESA/CSA/STSCI

Na (re)descoberta de mundos mais próximos, e já em Novembro deste ano , o novo programa espacial Ártemis foi lançado no foguetão Space Launch System (SLS). É o primeiro passo do regresso dos humanos à Lua, com a perspetiva de enviar humanos a Marte no horizonte. Para o gestor de projetos industriais da Agência Espacial Portuguesa, Joan Alabart, “o futuro parece promissor para a Exploração Lunar”. E a próxima década será da Lua!

Para reforçar a importância da astronomia e da ciência do desenvolvimento do setor espacial europeu e nacional, a Agência Espacial Portuguesa assinalou as “Duas Décadas de Portugal no ESO” através de uma conferência que percorreu o passado, o presente e o futuro da relação entre o Observatório Europeu do Sul e a indústria e academia nacionais.

O ano fica ainda marcado pelo lançamento do novo foguete de média elevação da ESA, o Vega-C. Este é o foguete que, no futuro, irá transportar o Space Rider, o veículo orbital reutilizável da Europa, que irá aterrar na ilha de Santa Maria, nos Açores. Manuel Wilhelm, gestor de projetos de Transporte e Exploração Espacial na Agência Espacial Portuguesa, assistiu ao lançamento no porto espacial europeu, situado na Guiana Francesa. Nas suas palavras, “este lançamento e o foguete Vega-C representam um marco importante para aumentar as capacidades e a competitividade da Europa no acesso ao Espaço”.

 

Sustentabilidade como palavra-chave

Na reta final do ano (e no espaço de uma semana!), foram lançados dois satélites: o Meteosat Third Generation e o SWOT. O primeiro, lançado em a 13 de dezembro, produzirá imagens da Europa e de África a cada 10 minutos, permitindo um acesso mais rápido a imagens de maior resolução, num avanço significativo para a previsão de eventos climáticos severos. O satélite SWOT, da NASA e da agência espacial francesa – CNES, que irá providenciar imagens inéditas e de alta resolução de todas as grandes manchas de água do planeta, também iniciou a sua missão três dias depois. Os dados divulgados por este satélite poderão ajudar os cientistas a ter uma melhor compreensão sobre os efeitos alterações climáticas.

 

Vários eventos da Agência Espacial Portuguesa focaram-se no tema da sustentabilidade. © Agência Espacial Portuguesa

 

Por falar em satélites e Observação da Terra, vale a pena recuar a Março para recordar a I Conferência Nacional Copernicus, organizada pela Agência Espacial Portuguesa na Universidade de Évora. O Auditório Nobre do Colégio do Espírito Santo da academia alentejana foi o ponto de encontro da comunidade portuguesa de utilizadores do Copernicus. Como apontou Carolina Sá, gestora de projetos de Observação da Terra da agência, a conferência mostrou que “os satélites têm, de facto, aplicações muito diversas e que podem contribuir para a solução de muitos desafios que enfrentamos atualmente”, revelando ainda a importância da articulação entre a “comunidade crescente de utilizadores do programa Copernicus em Portugal”.

A sustentabilidade foi o denominador comum de muitos dos projetos desenvolvidos pela Agência Espacial Portuguesa ao longo do ano. Em maio, a Universidade de Aveiro recebeu a quinta edição da New Space Atlantic Summit, cimeira que se regeu pelo lema “Um espaço sustentável para uma Terra sustentável”. “Portugal quer assumir um papel protagonista num dos maiores desafios que alguma vez se colocou ao setor: a sustentabilidade das atividades espaciais”, afirmou o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, no evento.

 

Olhar para o futuro 

O ecossistema espacial nacional saiu reforçado da Reunião Ministerial da ESA de 2022, que aconteceu em novembro. Portugal atingiu, este ano, a sua maior contribuição de sempre, com um investimento de 115 M€ nos programas da ESA – valor que compara com um investimento de 102,7 milhões em 2019 e que revela a importância do envolvimento nos programas da agência europeia para o desenvolvimento da indústria e dos centros de I&D nacionais.

“O aumento da subscrição de Portugal permite reforçar a participação de empresas e instituições científicas e tecnológicas nos programas levados a cabo pela ESA, de forma alinhada com os objetivos da Estratégica Nacional para o Espaço, nomeadamente a capacitação tecnológica do setor e a capacitação nacional de infraestruturas”, afirmou a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato citada em comunicado.

No mês anterior, em outubro, o setor espacial português mostrou-se pulsante na 73.ª edição do Congresso Internacional de Astronáutica (IAC). Portugal teve a maior representação de sempre no certame que aconteceu em Paris e que é um dos maiores eventos mundiais dedicados ao espaço. A Agência Espacial Portuguesa liderou a delegação portuguesa, composta por seis empresas e organizações.

 

Educação como motor

Esta clara aposta no futuro também se revelou como linha condutora dos projetos educativos da Agência Espacial Portuguesa de 2022. Este foi o ano de estreia da iniciativa Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia, que permitiu que 31 jovens estudantes portugueses flutuassem em microgravidade o mesmo o que os astronautas vivenciam no espaço através de um voo parabólico. A aposta é contínua: os pré-registos para a edição de 2023 já estão abertos e, em breve, os estudantes portugueses poderão inscrever-se no concurso. Além disso, 2022 também foi ano da maior edição do European Rocketry Challenge — onde, pela primeira vez, uma equipa portuguesa não só lançou como recuperou o seu rocket, mas também venceu um prémio.

“Estes projetos mostram que os jovens estão interessados na área do Espaço e que é preciso, cada vez mais, dar-lhes acesso a este tipo de oportunidades”, enfatiza Marta Gonçalves, gestora de projetos educativos na Agência Espacial Portuguesa. O sucesso do Spatiobus, o autocarro ambulante francês que percorreu várias cidades portuguesas durante duas semanas, comprova-o. Coordenada pela Ciência Viva e a Agência Espacial Portuguesa, uma série de atividades lideradas pela associação parceira do CNES Planète Sciences deu a cerca de 1.500 alunos e professores a oportunidade de construir pequenos satélites, conduzir projetos de oceanografia e muito mais. Esta foi uma das atividades desenvolvidas no âmbito da Temporada Portugal-França, que acabou por aproximar as agências espaciais portuguesa e francesa.

 

Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia. © Novespace

O ano fica ainda marcado pela organização, em Portugal, da 34.ª edição do Space Studies Program, um curso intensivo de nove semanas dedicado a temáticas espaciais. Mais de 100 participantes vindos de vários pontos do globo (incluindo a maior delegação portuguesa de sempre no SSP, com nove participantes) chegaram a Oeiras para um profundo mergulho nos vários temas ligados ao Espaço.

Autor
Portugal Space
Data
26 de Dezembro, 2022